terça-feira, 17 de maio de 2011

Faces Marcadas

Chegou, antes que anoitecesse,
Com a angústia de quem aprendeu viver
Num mundo de infinita treva
E suas retinas sem foco sonhavam.
Com ainda aquele antigo rosto marcado,
Sorrindo por eu estar desfigurado.
A mesa estava bem posta,
- Banquete para os trouxas! - Ébrios, cantávamos.
Tentava trilhar o crivo estreito da vida,
Seus pés tortos impediram.
Segurou firme em minhas mãos,
Eu jurei que iria segurar.
Fumaça nos céus; O coração tão seco...
Seus pulmões, duas pedras de carvão queimado;
A culpa tinha largos olhos
E tão alta era sua voz nos ouvidos
Que os tímpanos começaram a sangrar.
- Esses são céus, meu amigo -
Começou o diálogo de forma estranha
- De um cinza tão intenso quanto teus olhos depressivos.
- Preciso de mais uma dose - concluí.
Havia chego atrasado para seu velório,
Minha mente tardia me ludibriara novamente,
E ele continuou:
- Nem comecei a viver e me chega a morte
Neste belo vestido de noiva?
Assoprou o pó da mesa pelos ares.
Os sentidos haviam se perdido,
Suas mãos sem tato, sempre tão leprosas,
Nunca juntas em suas orações vazias.
E eu, ali no chão mais um dia,
Nem soube agradecer os poucos trocados
Que a raiva me roubou naqueles anos...

"Não mais seria como os velhos dias
Nunca mais voltaria à ser"

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