sábado, 29 de junho de 2013

Desisto

Aos poucos as sombras se afastam
E com elas, as sombras das portas;
Outrora abertas, agora lacradas
E de dentro os fantasmas riem.
Zombam de nós com tal frequência
De zunidos nos ouvidos, semi-surdos,
Ouvidos surdos não imploram aos pés de gigantes medíocres
- Quem dera que logo falhassem, deixando-me abandonado às traças.
Mas não se vão, porque precisam de mim,
Amaldiçoados e sujos tímpanos, tem necessidade de meu sangue!
De meus músculos, de minha força,
A força com a qual ajoelhei-me e me arrastei pelo teu quarto imundo.
...No lixo acumulam-se seringas.
O mérito dos dias bons.
"Se esses são os bons, que dirá os ruins?"
- As distrações não me enganam, são cálices cheios de álcool
E totalmente vazios de esperança.
Então é isso, o mundo melhor que me prometeram?
Jovens estrangulados em porta-malas de carros?
Jogar das janelas papéis picados, sujos de merda?
Desisto.
Nego à Ti, Deus, Nego ao Diabo e ao compromisso de ser amigo.
Porque me negam a perspectiva de vida.
Me negam, me negam, há anos,
E depois de tanto..
E só agora..
Desisto!

Prosopagnosia

Máquinas rasgam o asfalto lá fora;
Aqui dentro, os gatos se ouriçam,
Cospem as asas de pássaros semi-vivos,
Arrancam-lhes o coração, sem matar,
E trazem-nos, com olhos de piedade.
Entre pesadelos de sexo nojento com garotas solitárias,
Deitamos de bruços, para ser estuprados.
Jamais tocarei seus rostos..
Estas garotas jovens e sozinhas,
Todas elas, oniscientes afrodites,
Se enforcam entre promessas e fios telefônicos,
Pelos quais suas mães mortas se comunicam;
- Com ódio, fofocas mesquinhas e aquelas velhas mentiras
Próprias de pessoas vivas.
Ah! Os cadáveres sem ossos!
Que ânsia, soprá-los contra os lagos insondáveis do esquecimento!
Como um rato sem olhos, esfaqueá-los sem me aproximar..
Sorrateiro, contorcer suas peles nuas,
Conhecer o sangue que emana de suas costelas.
Mas nem ao menos poderia dizer quem são!
Jamais saberia reconhecer seus rostos,
Suas faces, devastadoras de tão belas.
Então as deixaria sofrer, neste deserto
De carros infinitos rasgando o asfalto,
Porque foi assim que me abandonaram:
Inalcançáveis, Vomitaram um paraíso de belos seios,
Mas de chagas gigantescas.. Incuráveis..