segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Realismo

Credo-em-cruz e mais um monte de merda,
Só não tanto nos amigos.
Sentir cheiro de merda me traz nostalgia,
Lembra a adolescência,
As pessoas esgotadas [Cheias de esgoto]
Olham para copos vazios
E constatam estar de saco cheio.
E vieram muitos copos vazios, numa noite,
Até que me definissem como pessimista.
Mas nenhum deles estava meio cheio,
Então, como todo pessimista,
Em verdade, em verdade, vos digo: Sou um realista.
Desde quando vim pra cá,
Tenho sempre os mesmos problemas
Esses dos quais não se fala,
E que, por não se falar, não se resolvem nunca;
Em casa os espelhos, rachados,
Me trazem uma imagem distorcida.
Nas ruas, estes que me enxergam com clareza maior
Do que a com que consigo me enxergar,
Me apresentam à mim mesmo,
Alguém não menos distorcido que aquele dos espelhos.
Temo que assim seja.
Então meus amigos vem até em casa:
[Se gostam de mim, boa gente é que não são]
E eles dizem que tudo vai ficar bem,
Que um novo ano começou,
Que serão presentes em meus aniversários.
Hm... sei não..
Credo-em-cruz e mais um monte de merda,
Mas.. Nos amigos...


"Varra-me de uma vez"

Até que o Sol desista

Vou perturbar as ruas, aos berros,
Clamarão sob meus pés, os insetos, por piedade?
Ou, espreitando no escuro pelo tempo em que cairei,
Arrancarão de mim os dentes e a pele?
A culpa é minha se nada ficou pra trás,
Vou desaprender a andar, prometo.
Vou desaparecer na neblina de uma manhã cinzenta.
Os nós que não consigo desatar queimam por meu corpo;
Agora sei que a culpa é minha,
É fim de mês, as cobranças aparecem..
"Me acorde cedo, quero ficar mal humorado."
"Me acorde e me enforque" - foi o que combinamos,
Em tais noites.. Finitas, de vistas embaçadas.
E tua ausência pela manhã me provocava arrepios estranhos.
Nossos filhos seriam abandonados em latas de lixo,
Seus pulmões estariam cheios de fumaça e sem forças.
Estava quase pra te alcançar, quando os pés falharam,
O mundo era tão cedo, e a vida comprida,
Quase não soube reconhecer o que o tempo destruiu.
A vida agora é tarde demais,
E o Sol nunca mais nascerá.
Perturbarei-o, aos berros, até que desista;
Que dê as costas como fizeram todos.
Na noite as cobranças se afastam,
Na noite os vermes cobiçam
Na noite os mortos se abraçam
Na noite, me enforco, sozinho.