quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A Desesperança e o Descaso

Nuvens negras se espalham pelo céu como uma praga,
Engolem prédios, pontes.. Meu corpo,
Catatônico num canto sujo.
O frio me recorda que posso sentir,
Minha pele, antes deficiente
Agora arde, queima, desfaz.
Você observa a doença me consumir,
De cima, imune,
Com sua desgraçada leveza, imune..
Num poço os cães disputam
A única migalha que atira,
O perdedor rolará na lama,
Os outros, escarrarão sangue e morderão seus rostos,
A fim de realizar sonhos necrosados.
Satanás, o Titereiro,
Se aproxima para cuspir na minha cara,
Chafurdo na merda, engasgo, me afogo;
Em cima você, em baixo, o Demônio,
E eu tendo de escolher quem eu quero
Que pise nas minhas mãos quando eu tentar levantar.
Os humanos observam tudo,
Como um falso teatro de ódio;
Mas não era esse o papel que eu queria pra mim;
Onde eles vêem leveza, eu vejo distância;
Onde eles vêem imunidade, eu vejo doença;
Onde eles vêem Deus, eu vejo descaso;
Onde eles vêem Amor, eu vejo Solidão.

"O mundo morreu, o ódio venceu, o que é que eu vou fazer?
Sigo meu caminho, meu caminho é morrer.."

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Caixão lacrado

As cinzas caem com a leveza de uma doença degenerativa;
Um comediante morreu esta noite.
Seu intestino se espalha pelas entranhas
E motores de uma máquina, que segue respirando.
A chuva lava o que sobrou do asfalto.
Sangue pisado é o que se fez de seu potencial
De suas conquistas...
Uma criança chora no quintal,
Não vai conhecer o pai.
Agora mais negro que nunca, carvão; fumaça;
O punho no rosto, no estômago, no muro
Nas costas..
E todos caimos de joelho.
Lacrem a merda do caixão, não vou chorar dessa vez.
Lance o corpo no fosso, jogue terra em cima,
Não quero saber de mais nada.
O mundo rui à cada segundo,
Este é o mal do qual padecemos.

- Vá com Deus, meu querido..
Vá para casa, vá para casa e diga a seus pais que tudo ficará bem.


"Better off Dead, Better off Dead
A Smile on the lips and a hole in the Head"

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O Palhaço

Não possuo traços para sorrir.
Em meu rosto crava-se a essência do espírito.
Encerro-me em solidão e câncer.
Procure entre os dentes
De um andarilho frustrado e vai me encontrar;
Mesmo se os olhos de uma quimera fossem capazes
De atravessar o véu que cobre meu corpo
E me tocar com mãos que me dissessem para dormir tranquilo,
Não seria capaz de suspirar aliviado...
Uma espécie de palhaço veio até mim,
Era cedo e as maçãs de uma cidade fantasma
Banhavam-se no leve frescor que às faria deliciosas;
Com um cigarro preso entre os dedos,
O palhaço celebrava o fim dos amores:
"Bem aventurados sejam os pobres de espírito!
Bem aventurados sejam os vencedores!..."
Permaneci em silêncio, paralisado,
Voltei os olhos pro chão, onde a brasa,
Recém liberta do papel, tocou o chão e,
Em alguns segundos se apagou,
Mas não quebrei a vigília
Pela qual eles arrastavam as pálpebras,
Nem as libertei da areia e dos pregos;
Então, como um pastor que anuncia o fim dos tempos e,
Sobrepondo a minha voz à dele,
Que soava incessantemente, retruquei:
"Entendo que seja um palhaço,
Agora, por favor, cale essa boca!
O amor morreu há muito, todos estão cansados de saber.
Por estas ruas, sequer existiu!
Meus traços não me permitem sorrir,
Pois não sou palhaço. Nem ao menos sou humano!
-Assemelho-me à esta brasa,
Que no chão apenas espera apagar-se.
Agora vá embora!"
O palhaço calou,
O palhaço chorou..
O palhaço partiu...

domingo, 9 de dezembro de 2012

O Novo Legado

Deixe ruir ao redor
Com seu típico olhar de pena
Imitando malditas hienas
Rindo sem nenhum pudor;

E'ste será o sentido da vida
O reinado dos imbecis
Um rastro do inferno em gris
E uma história corrompida.

Avante! Avante soldado!
Avante e sem coração!
Somente a espada em mãos
E o peito dilacerado.          [Em frente!]

Em frente! Em frente soldado!
Enfrente, sem alma!
Pois o tempo não acalma
O ódio de nosso legado!

A morte de nossas mães
Em agonia e desgosto
As lágrimas para o rosto
E o espírito para os cães.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Os Filhos

A floresta sagrada queima
Em nossos pulmões, como carvão;
Os edifícios cobrem o Sol
E a fumaça cega os pássaros..
Pagamos o preço de escolher
Entre uma existência barata e rasa
E tantas outras, insalubres.
Os fogos de artifício e o desgaste anunciam:
- É tempo de deixar para trás
Estátuas distribuídas pela cidade,
Quais aquelas que admirávamos tanto;
Deixar de lado os próprios braços
Que tanto impedem que nossos filhos cresçam -
Egoístas, por sentirem-se sós e
Ingratos, por cortar os braços
Num banheiro imundo..
É tempo de rasgar a pele e gritar pela janela
Toda a dor de acordar mais um dia -
Jogo tudo pelo ralo e sorrio,
E posso ouvir os aplausos dos ratos,
Escondidos entre as frestas do meu peito..
Posso ouvir a aflição dos cães,
Que correm para as ruas,
À fim de ouvir o último badalar dos sinos..
E Em meio a poeira,
antes varrida para debaixo dos tapetes
E agora nos irritando os olhos,
Telhados queimam, Filhos morrem,
Pontes se desfazem..
E sobre as pontes que naufragam rumo ao esquecimento..
Eu.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O Cão que Não Soube Odiar

Não sou capaz de sorrir..
Devolvam-me a alegria;
Façam-me florir,
Mostrem-me um novo dia!

Ou deixem-me em paz,
Pra m'afogar
Entre o desafeto..
Não suporto mais
Me arrastar,
Deixem-me quieto.

Encarno um cão sem alma
Co'as entranhas na calçada;
Tarda a sorte escassa
Sob a luz da lua, pálida..

O caos de seu ódio, respiro,
Deixem-me aqui, trancado,
Me esqueçam, sou tempo perdido,
É minha culpa ser rejeitado..

Mesmo que finja,
Me preparar p'rum recomeço,
Toque-me e sinta,
Por fora, vivo..
Por dentro, apodreço..


Credo

Agora já tarda
A lua no céu, branca.
Cedo, um cão, soberano
A lamber as tripas do asfalto.
Crédulo, entre espasmos,
Partir os céus por pão.
Seguimos, em marcha,
Para poder chorar juntos,
O amor ultrajado
Entre véus descrentes.
São tantos tons de preto
Em minha face
Que já não sei qual vestir.
É tudo tão cego, no horizonte.
Já tarda, a noite,
Não adianta fechar as cortinas,
E orar por um estupro;
Posso lidar com essa dor,
Só me dê um tempo,
Para descansar a cabeça.
Não me destaquei,
Entre os mímicos,
Surdos por natureza;
E acariciei as traças como àmigas;
Não me sobressai,
E a lua, cortês, me sorriu,
Um adeus companheiro.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Em Torno do Ódio

As moscas se uniram
E da merda planejam
Acabar com os anjos...
Desamarrem os pés das pombas,
Meus olhos secam
Diante de tanta maldade.
Deem-lhe novas asas,
Despencarei ao seu lado..
Arrancarão meus dentes,
Água escorrerá,
Fazendo dos campos, lama.
O verde há de se esconder
Entre carrancas de bronze,
E joelhos doloridos;
Ouvidos vão zunir..
Devolvam-me a alegria! Ela me pertence!
Meus olhos estão borrados,
Isso não é nada,
Um pequeno ralado nos pulmões;
Não é nada, mesmo..
As ruas estão fechadas,
Parece-me um velório.
Malditos! Estão envelhecendo!
Seus amores sofrerão de Alzheimer..
Malditos serão seus nomes!
Isso não é nada, perto do resto..
Vejo você em meus sonhos,
Cada vez mais bela,
Mais pálida, mais nua..
Coloco-a num pedestal torto
E a glorifico como à um anjo morto.
Entre cavalos, aflitos,
Com ódio no olhar e sangue nas veias,
Suas glórias me colocam de joelhos...
Fazei de mim, fiel, meu Deus!
Fazei de mim, fiel e
Colocai-me em cultos vazios.
Cala-me para sempre, senhor;
E na terra sucumbirá,
Numa caixa cheia de cupins
Meu corpo, inanimado.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

15/11/2012

Dez horas e dois minutos; Uma noite fria.
Nem sempre foi assim.
Até as sombras tremem
Perante a penumbra que cobre a cidade.
O último trago do cigarro queima,
Seguro a fumaça nas entranhas,
Corre-se sempre o risco de ser o último.
Do maço? - Da existência.
Este mundo é escombro de outro
Que um dia aqui existia.
As casas, as crianças - Apenas cimento.
Todas as mulheres são prostitutas
Desesperadas e correndo pelas ruas..
E hão de cair....
Uma nova era surge,
Escorrendo do sangue de outra;
Vamos todos morder a língua
E não vou mais me importar
Se agonizar na beira da estrada;
Atropelado, estuprado; morto.
Endireito-me.
Um cão me segue, triste...
Alimentei-o por muito tempo
Agora terei de pisar em sua cabeça.
O hoje é tarde demais.
Para nós dois, é tarde demais..
Não é que o passado era melhor,
É que não quero me acostumar à essa merda.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A Lagarta

Adorai porque é sagrada
Minha existência desgraçada.
Me acuda! Me acuda!
Passei a sentir o sangue correr!
Sinto-me em desespero..
Aprendi a sentir o frio,
De dançar sozinho
Num quarto vazio.
Jamais alcançarei algo
Próprio de outros insetos.
As folhas caem, num ritual
Para mim, de nada vale.
Um humano risca um fósforo..
Acordai! Acordai ó Cristãos,
Que há chego a hora.
Levantai e acendei velas para nós;
Que somos feitos de fumaça.
Larvas adentram as narinas,
Mesmo morto, agonizo.
A noite, banquete para as trevas,
A angústia me faz trêmulo,
Assim, cravado em meu nome,
Que é nome de meu pai
E de seu pai, antes dele.
Já não faço parte,
Me alimento de fezes no chão,
Compro as mãos que não me foram dadas.
Adorai porque é sagrado
Ser humano e desgraçado.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Ninguém se Importa Com o Cão Sem Dono

Ninguém se importa
Se um cachorro velho
Destes que correm ruas frias
À se alimentar de restos,
Morrer à beira da calçada.
Mandíbulas presas, trancadas..
E as pernas à arrastar correntes..
Nadamos pra morrer na praia
E esse é o fim dos dias.
Filhos e filhas do mundo, uni-vos! [Que piada!]
Fedemos tamanho o mau gosto
De ainda caminharmos..
A carniça impregna à distância..
Os pássaros, assustados, voam..
Por ainda caminharmos..
Você será astronauta e eu serei escritor
Num sonho só meu, que guardarei
Com esperança nunca vista por velhos catatônicos.
Mas num instante macabro,
Enquanto você estiver nos céus
Mil foices rasgarão as nuvens,
Para decepar os infiéis..
E você não estará do meu lado
Pra fechar meus olhos enquanto
Meu corpo for dilacerado pela raiva..
Sou incapaz de te odiar por isso.
Ninguém se importa..
Ninguém se importa..
E, se vier me visitar, de lábios rachados
Em uma cama de hospital..
À me alimentar de restos deixados
Por cachorros mortos em dilúvios..
Abraçado pelo mesmo ódio
Que derrubou aqueles antigos penhascos..
Vai encontrar um ser desprezível,
Que nada traz daquela criança amável que fui.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A Pedra

[Primeiramente quero deixar claro que não é um poema..
Não é um dos meus textos, nem nada..
Acho que é uma espécie de desabafo, só]

A Pedra


Tenho um cisto na cabeça.
Em algum lugar no lóbulo frontal..
Se encaixou num espaço onde normalmente, não há nada.
Se instalou ali, se acomodou.
Como eu, apenas um pouco deslocado, na maioria do tempo.
De vez em quando tenta crescer,
Mas não é capaz.
De vez em quando tenta se mover,
Mas não é capaz.
Talvez seja câncer;
Como eu;
Me conhece por dentro,
E de lá, há de me destruir. [aos poucos?]
Quem estará do meu lado então,
Quando o chão resolver que quer
De volta a matéria que peguei emprestada?
Quem há de me ouvir então,
Ao cair da última folha?
Tenho um cisto na cabeça,
Vai me derrubar num dia qualquer..
E então, de vista cega e já paralisado e definhando,
Quem há de chorar?

"Tu és Pedra e sobre ti construirei minha igreja"

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ode à Vitória

Não sei do que tratam
As medalhas que carrego no peito.
Me pesam o pescoço,
Preciso deixá-las para trás;
É um fiasco me sustentar
Sobre as pernas de um passado apodrecido.
Aquelas garotas já não me admiram,
O que posso fazer?
Já não quero carregar o amor
Entre ampulhetas quebradas..
Cuspo os dentes fora...
Moedas para as enxurradas;
Lâminas para meus inimigos...
Sobra a alma, jogada em uma sarjeta qualquer.
..
Algumas crianças correm por um jardim,
Falam como crianças, pensam como crianças..
Me aproximo delas,
Quero fazer parte de algo..
Ser criança e correr por um jardim..
Desde que me tornei homem,
Eliminei as coisas de criança..
Hoje vejo face à face..
Já não sou mais criança..
Tampouco aquelas garotas irão me admirar..
E já não sei do que trata
A palavra vitória...


"Por ora restam a Futilidade, a Desistência e o Egoísmo;
A maior delas, porém, é o Egoísmo"

sábado, 27 de outubro de 2012

Saudade



Um pedaço teu conservo
Incapaz de me despedir,
Nos horizontes observo
Minhas torres à ruir..


[Vou postar arranjos curtos para Piano;
Senti saudade de compor algo
E tá tudo abandonado aqui..
Uma homenagem à distância...]

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Duas Primaveras


Não deixar que os sonhos escapem por entre os dedos...

sábado, 20 de outubro de 2012

Deuses e Feras

Mover os braços embaixo d'água
Diminuir a distância entre as mãos.
Entre alegria escoriada, sufocar-se;
Entre os destroços desaparecer..
Tornar-se um deles..
Anjos choram pelos cantos..
Eu é que despenco. Sou uma farsa!
Acenderei um cigarro,
Uma homenagem ao seu sorriso falso,
E outro para Deuses esculpidos em carvão,
Para cravar em sua boca
Toda a impureza de ser humano.
Então choraremos todos juntos..
Como feras desgraçadas e sujas de lama,
Nos embrenharemos pelos vales,
Procuraremos por abrigo, até que morramos fome.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Insetos em Agonia

Aqui em baixo, todos deprimidos.
Em torno de uma negra estátua,
Os seres clamam por atenção. Todos, sem exceção.
Insetos agonizam pelos vales, porém
Em uma frequência que já não podemos ouvir.
Estamos mortos, infecundos de uma forma estranha..
E mesmo que os anjos descessem dos céus
Com suas faces em luz banhadas,
Deprimidos, aqui em baixo,
Daríamos de ombros aos seus cantos magníficos.

Toque

Haveria então cometido o pior dos erros;
Esperavas por mim..
Um toque e tudo veio abaixo,
E o amor é só vazio e solidão.
É isto que carrego nas mãos.
Isto e sangue pisado.
Esperavas por mim, em uma vitrine..
Mas não pude alcançá-la.. Nunca poderia..
Haveria cometido o pior dos erros..

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Carniça

Sinto cheiro de carniça logo cedo,
Tranco os olhos bem firme,
De modo que não veja a luz.
[Não quero foder o meu dia, à essa hora da manhã]
Sinto-me patético.. Por ser, ainda, o mesmo.
Desejo que os anjos façam jus à teu nome,
Derivado também da luz, como aquele que à muito despencou...
Fora derrubada por minhas próprias mãos, nuas
E agora agoniza em gelo e rezina.
Quanta culpa toma meus ombros...
Sem vestes de prata.. Como pude?!
Que os anjos façam jus à seus nomes,
E eu farei também ao meu.
'Sonhos pardos, sem contraste?'
Cala-te! O riso que ecoa é minha resposta...
Em uma pequena sala cabem muitos espelhos
E deles ecoa o discurso de um falso profeta:
"É dever de todo cidadão de bem pisar sobre a cabeça dos opressores,
Nós, íntegros e livres, como verdadeiros Filhos de Deus
Devemos nos vingar daqueles que trazem consigo a miséria!"
Sinto-me patético... Anseio que a espada vire-se contra mim..
Oro para que meus amores tenham punhos firmes..
Sinto cheiro de carniça logo cedo, e constato:
"É de meu corpo que exala"

domingo, 7 de outubro de 2012

Dezesseis Dias

Dezesseis dias de Césio 137
Torturando os ossos,
Queimando como Napalm,
Destruindo os filhos..
Retorcendo suas pernas, dobrando-as,
Tornando-os monstros inócuos,
Anomalias deformadas.
Dezesseis dias de Césio 137
Tempo o suficiente para
Homenagear o demônio,
Dar recado dos homens para Deus,
Batendo forte nos peitos,
Iniciando uma briga destrutiva.
Dezesseis dias exposto ao pó azul que brilha
Mais que a própria Ketamina,
Exposto ao câncer do câncer,
À cura para a vida.
Dezesseis dias de maldição..
Entupindo os pulmões
Derretendo casas e ferros-velhos,
De olhos fechados para as crianças
Negras, malditas.. Pobres.
Dezesseis dias de Césio 137
E seja Bem vindo ao reino dos desfigurados.
1987, Bem vindo ao mundo dos mortos.

sábado, 6 de outubro de 2012

Era pó o que sobrava dos dias.
A carne e o osso definhavam
E sobre eles cobria a praga;
Sobras do verme e do vírus.
Éramos muitos e muitos que éramos,
Já não olhávamos uns para os outros.
Éramos muitos, os que já não viviam.
As fantasias dos homens dançavam
Corriam, fugiam, escapavam das mãos..
Só o pó sobraria.
Ficaríamos por ali, à almejar migalhas,
Sorrir de forma forçada,
Escapar de trilhas de areia..
Seriam méritos, casas de palha,
Frágeis até mesmo para leves brisas
Em olhos vermelhos de tanta cólera..
Em pó a morte cairia dos céus..
Ícarus dos próprios demônios,
Césio para nossas almas..
O mesmo pó de que os dias são feitos..
O nada.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Um Segundo Setembro

Descanse em paz, Meu amigo..
O primeiro de muitos anos, o primeiro de muitos setembros.
Pela paz, meu rapaz!
Você vai fazer falta..
Um pai, um irmão, um de nós!
Abraços aqui de baixo!
Em breve, quem sabe não estaremos lado a lado?!
Muito amor pra ti por ai...
Por aqui, para nós ficou o Seu!
E é com orgulho que o guardo.
O guardo em noites de angústia.
O guardo em noites de alegria.
Pois estamos sempre lado a lado!

sábado, 22 de setembro de 2012

Névoa

Algumas pedras no caminho seriam câncer.
Viriam dias onde a dor e a escuridão
Seriam penitência para erros nunca cometidos...
Estradas, aquelas ficariam para trás..
Sua poeira à avermelhar olhos
Cegar homens fortes, outrora saudáveis...
Porém a nevoa dos dias perduraria,
Fazendo deles mais pesados..
Quase impossíveis de carregar sobre ombros deslocados;
Atravessar os lamaçais da má sorte seria suicídio,
Com terra entre os dentes e pregos nos tornozelos..
E a mais árdua das tarefas então se tornaria
Suportar a nevoa própria de outros dias;
Nevoa que, para uma criança realmente triste, é infinita.

"..They said: We all care for you, we know how you suffer
But i know you can succeed, i used to have it so much rougher.."

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Diabo dos Pássaros

Antigos livros não voltariam à ser lidos:
Doenças descritas neles
Levariam nossos filhos
Antes mesmo de nascer.
Outrora sairiam impunes;
Aquelas amareladas páginas
Que se desfaziam nas mãos.
Mas agora famigerada praga,
Destra mão do próprio diabo,
Haviam de perecer.
Tempestades viriam varrer
A tristeza dos campos
E com ela morreriam os amores,
Cansados.. Carregados de dor.
O pó viraria barro,
E do barro nasceriam homens.
Desgraçados. Miseráveis...
Preenchidos do puro ódio.
Ódio cujos muros fazem questionar
Quando morreram sonhos.
Ódio de enxurradas onde afogam-se amigos.
Ódio que fecha os portões
Perante os quais choram garotas.
Garotas que amamos.. Um dia...
Os pássaros não voltariam à voar;
Querosene correria em suas veias,
Entre o devastador desejo
De que o céu fosse embora, de alguma forma.
E do céu se faria fumaça,
E da fumaça nasceria o Diabo.
Ficaria ali inerte, entre os arcos do paraíso.
À poluir sonhos, arrancar asas
E beber do sangue de nossos filhos.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Medíocre Orgulho

Algum tempo havia passado
Desde os últimos entardeceres belos e repletos de esperança;
Eu em meio à medíocres, camuflado
Anotava palavras carregadas de rancor.
Era um dia daqueles;
Tudo aconteceria ao contrário do que desejei,
Só por haver desejado algo.
Coloquei a faca entre os dentes de um ignorante
E ordenei que corresse.
Porém atônito ele me fitava,
Inquieto por dentro, mas com olhos disciplinados,
Como quem declara guerra a um poeta alcóolatra.
"Assim seja" - Eu disse.
Ele forçou os dentes até que marcassem a lâmina.
"Glória aos mediocres e alcançaremos os céus!"
Respondeu.
E eu, estranhamente humilhado, murmurei:
"Glória aos medíocres o mundo todo vem abaixo".
Destruído, me retirei,
O exílio me aguardava.

 "And what's a game of chance to you
To him is one of real skill"

domingo, 16 de setembro de 2012

Os Corvos

Ousados seriam aqueles dias,
Por carregar em si os nomes
De aves negras à tomar os céus.
Tais mãos quebrariam o gelo;
Tocariam meu corpo de forma dócil,
Correriam por minha face desanimada,
Arrancando males pela raiz.
Dias outros se fazem clarear,
O Sol já não nasce na hora certa.
Somos frágeis, agora. Velhos e frágeis.
Desfrutando de moedas falsas,
Admirado artistas sem camisa,
E nos esquecendo dos antigos sabores de doces.
Vale a pena começar a andar
Só pra deixar as palmas das mãos em carne viva?
Já não sei dizer..
E tudo bem não acreditar em mim,
Mas por favor não estrague esta minha noite.
Tudo estava indo nos conformes,
Pratos cheios e dois dias sem álcool,
Alegrias e conquistas efêmeras..
Quando chegaste carregando nos bolsos
Verbos ásperos e punhos cerrados.
Tudo estava correndo bem..
E assim se completariam dois dias
Sem alimentar nenhum tipo de vício profundo;
Mas estes verbos.. Escrevo no passado.

"Couldn't love it anymore
Had to listen to my heart
Couldn't take it anymore
So you leave me...
Godless..."

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Epílogo para Os Corvos

Seguir sorrindo seria apenas uma ilusão.
Vede tu o que faço de meus dias:
Atirar pedras nos corvos
Aqueles que assombraram a própria noite,
Entre ombrais e desertos sórdidos
Tão magníficos quanto a angústia constante;
Hei então de ter mil asas
Gigantes por sua própria natureza,
Porém presas entre as mãos de quem me afaga
Sempre incapazes de acalmar;
E cujos dedos deixaram escorrer entre si
Inertes, destinos gloriosos..
Que trariam paz aos olhos que suplicam por
Escuridão... Ou...
Alívio tosco à correr no corpo agora exausto.
Distraída a cabeça
Devido àquelas cargas horárias absurdas,
Que amarram o coração durante o dia,
Obrigando esboçar um sorriso torto e amarelado
[Tal qual os daquelas simpáticas garotas
Que carregam a beleza de viver sempre sozinhas],
Há de estar tudo em paz...
Seguir sorrindo seria então ignorar os corvos..
Ou dar a eles o próprio punho,
Cerrado e à sangrar;
Sabendo ser fiel às asas nunca úteis.

sábado, 1 de setembro de 2012

Homenagem à Você, Direto do Inferno

Disseminando discursos infantis
Entre os grandes mestres da mediocridade,
Com suas teses magníficas
Sobre insegurança em trajes arrogantes..
És grande, és forte, em imagem
Uma reluzente e colossal montanha de lixo.
Meus sinceros parabéns à você,
Que se veste como um parasita
E mesmo assim, há de me vencer com facilidade.
Jaz meu rosto como obra do diabo,
Em contorcionismos, dançarinas se agarram,
Mulheres de mãos dadas à humilhação,
E eu, no chão, pisoteado.
Sobras do destino seremos, eu e elas,
E haveremos de conjulgar a própria solidão
Soltando aqueles mesmos discursos de sempre
Genéricos, como nossas línguas gastas...
"Gostaria de mudar o mundo" - Um jovem disse-me -
"Cumprimente um trovador com as mãos sujas de merda"
Respondi.
Ele se curvou até desaparecer,
Esmagou sua coluna, transformando-a em migalhas;
Aqueles jovens não mais existem,
Inertes perante os dias, pereceram.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Lodo e Argila

Por ruas cobertas de lodo,
Na chuva se desfazem amores de argila..
Distantes clamam mortos;
Batalhas onde és inimigo.. Não mais!
Mesmo que puxem para baixo,
Algumas moedas não tem valor,
São só peças de metal enferrujado,
E assim fazem dos dias mais longos,
Transformando-os em árduos lamaçais à se cruzar..
Banquetes já não fazem sentido,
Nem vem o sono visitar, pela noite..
Como se o fruto que viria à apodrecer
Houvesse amargado à boca desde o princípio
E feito de todos os anos, pó..
Daltônicos amores esqueceriam-se,
E deixariam tudo para trás com facilidade,
Seguindo, sem direção alguma,
Pela neblina de um mar de indiferença qualquer.
Mas à ti, nenhum tempo cega.
Tu carregas tudo, como o asfalto carrega o peso
De ter em suas origens a própria essência do lodo.
E à ti há de restar apenas solidão,
Como os ímpios hão de ter na lápide,
Esculpidos pelos justos, os nomes de seus amores.

O Cair das Cinzas

Solto tuas mãos
Num gesto súbito e incoerente
Inerente à quem sofre co'agonia
De viver sempre ante um abismo.
Uma doença degenerativa
Me consome um pouco mais à cada noite..
Sua alma e sangue espreitam,
De um canto escuro do quarto (O mais sujo)
E vão me engolir, antes que venha o sono,
Mas os lábios, dormentes há tanto,
Nem ousam gritar teu nome.
Letargia toma os músculos,
E o coração há de parar...
Há anos a cidade desmorona lá fora,
De nada adianta escrever epitáfios
Em homenagem à antigas amizades...
E se, antes tão azuis os horizontes,
O cinza agora os toma e retorce
Fazendo restar nada mais que o puro pó..
A última cinza do cigarro há de cair,
Nela toda a angústia e tristeza queimarão,
Hei de observar com pena, enquanto toca o chão..
Por ser feita da mesma matéria podre
Que faz meu corpo tomar forma;
A última cinza do cigarro há de cair,
E eu, com ela, despencarei.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O Homem-Cão

A vida impede de desistir, As vezes.
Eu parecia... Correr!
Sozinho parecia sonhar.. Talvez..
Olhar para os lados, que miséria!
O eterno retorno, a tristeza sem fim..
Seria o próprio âmago da vida
Despedaçar uma folha nas mãos
Com toda a glória de um derrotado?
A graça de correr até cair o maior tombo
E discorrer sobre cães amigos
Sobre crianças em casas feitas de doces,
Esquecidas por mães
Que ouvem Carpenters para limpar suas casas,
Deixando apenas a indiferença, lisa..
Seria esse o objetivo final?
E aqueles garotos, tão joviais que nos contaram
Que no fim iríamos todos nos abraçar
E chorar a mágoa e o remorso
De ter vivido de olhos fechados, onde estão?
Ah.. Agora me lembro.. De um velório..
Eu parecia... Parecia...


"...Guardo comigo um caco de vidro;
Seguro-o de forma que corte os vãos dos dedos
E que o sangue reflita de forma poética.
Tiro os espelhos do quarto,
Pra tentar dormir em paz por uma noite;
Tudo que eu tentei fazer deu errado.
Tudo que eu tentei deu errado.
Deito a cabeça sobre o travesseiro.
Fecho bem os musculos da garganta;
Decepo-os. "

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Tempos Áureos, Ao Contrário

O corpo tremia em espasmos sem iguais,
Pesadelos anormais me tomavam pela mão,
E eu, sem forças, me lamentava..
...
Aquelas garotas me passaram pra trás.
Elas, com suas taças transbordando água suja,
Com olhares próprios de Deuses..
Sádicos; Com seus altares e estátuas,
Sempre frios e distantes..
Me passaram pra trás.
...
Na lama acumulada em um corredor,
Dançavam vermes, celebrando a depressão,
E eu, na menor de minhas formas,
Preparava-me para dormir também por ali;
Companhia para eles? Parte de seu corpo?
Portas trancavam-se ao meu passar
E idiotas se jogavam de janelas
Como à imitar grandes gênios de forma imbecil;
[Edifícios sempre tão altos e imponentes, agora embolorados]
Entre eles me vangloriava;
Entre eles também pertencia.
E entre eles, havia de me lamentar uma vez mais;
Um amor distante, como uma imagem à perder as cores,
Um horizonte ilusório, uma trapaça dos dias..
Ah! Os tempos áureos, ao contrário..

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Orgulho das Máquinas

Carros cospem ódio e súlfur
Escorre óleo das engrenagens
Os homens empalhados
Construídos à sua imagem

Os Deuses, imunes à queda
Em tronos de cal e aço
Ostentam orgulho humano,
Seu desdém e seu descaso

Movidos pelo remorso
Como cegos animais
Buscando romper os sinais vitais
Damos glórias as máquinas
Por não sermos seus iguais
Perdemos a esperança de encontrar paz

Colocamos em tom miserável
Os pulmões em um cinzeiro
Traçando o futuro instável
De um filho derradeiro

Que nasça do puro metal
Com o coração dilacerado
Da evolução desigual
E de desejos programados

 A vida é incoerente,
Humanos não mais relutam,
Cegos seguem em frente,
Glórias banais nos ofuscam

[Adaptação de vários textos recentes]

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Epic problem

Congratulations...STOP!
Wish i could be there.. STOP!
Tell me something that i don't know
Is there anything left to know?
STOP STOP STOP STOP STOP STOP
ACESSORY! ACESSORY! ACESSORY!
FOR THE TIME! TIME! TIME! TIME!

I've got this Epic Problem
This epic problem's not a problem for me
And inside i know i'm broken
But i'm working as far as you can see
And outside it's all production
It's a illusion, set scenery
I've got this epic problem
This epic problem's not a problem for me...

Fugazi

Da Cor Cinza Inerente aos Trens

"O trem ainda não partiu" - eu disse,
Com os olhos banhados em sal e tristeza.
"Porém não tarda nossa distância...
E você vai estar, finalmente, livre;
Não é isto que sempre quis?"
E veio-me a recordação de um garoto,
Com rosto jovem, à beira de uma sarjeta..
Vivendo num reino de alegrias dissonantes;
E também de uma garota nua
À dançar, de olhos baixos;
Destilados baratos perturbavam sua mente;
Não havia nenhuma música tocando.
Nunca percebi quanta tristeza carregavam
Essas cenas das quais me recordo,
Mas hoje são dores bem próximas..
E quando é chegada a hora,
De todos os desejos que tive,
De todos os trilhos que quis caminhar,
Resta apenas um horizonte
E o trem que há de partir..
É.. E por fim, de todos os sonhos
E de todas as cores que
Habitavam os olhos de Natasha
Ficou apenas o cinza.

Sobre Lares e Lobos

Cães.. Carcaças..
Que faces me observam,
Das bordas desta cidade esquecida?
Que lobos vêm habitar os edifícios
De palha que um dia destruiram?
O lar onde vivi, que,
Mesmo para uma brisa fraca,
Se fazia frágil?
Os desconheço..
Não são os mesmos de outrora.
Nem as inspirações..
Aquelas foram sopradas ao acaso e,
Guardadas aquelas peças de couro,
Sobrou a inanição à me encarar
Com suas unhas e dentes afiados..
Como pinturas de Bárbaros
Carregando em lâminas
Suas próprias glórias;
Grossas, tortuosas.
Cortes então se espalham
Pelas juntas de meus membros,
Pelas veias expostas na pele branca
E eu, acorrentado,
Observo do canto, escuro e úmido,
As feras à devorar meus amores;
Porém, não sofro.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sempre ao meu Lado

A angústia ao meu lado,
Presas e garras na garganta;
Esculpindo dores e
O torpor dos dias.
Torrentes de lama
E sangue nas línguas
De profetas que se arrastam
Como serpentes malígnas
Escoam como escombros de mim mesmo,
Dentro de ti e também em teu nome.
Teu hálito há de me arruinar..
Estraçalhar! E tuas gargalhadas,
Ecoarão pelas ocas catedrais
De corvos à espreitar almejando
Os negros olhos daquelas garotas,
E a paralisia inerente aos gárgolas;
Insensatos, falsos poetas..
Anjos de asas de pedra e sem tronco;
Santos secos e sem ânsia...
Agonia e arrepios em seus fêmurs
À enudecer o credor falso dos homens,
À dissecar as fibras e sonhos;
Sonhos de pó, do mais deplorável pó..
De ódio! De mentiras e de sombras..
Meus sonhos.. E só meus.
Tortos por sua natureza,
De carregar em ombros frágeis
À coisa em si de toda a tormenta.
Sonhos de angústia,
Sempre ao meu lado.

"In this shadowplay acting like your own death,
Knowing no more.."

terça-feira, 3 de julho de 2012

Derrotas

Me punam aqueles anjos,
Como a amanhecer febrio na cama
E eu os culparei por minha miséria.
Apunhalaram-me outros amigos,
E me roubaram as ânsias;
Sou só o que restou;
Compondo a mais horrenda das artes,
Onde viver é conduzir a existência através
De dores, arrependimento e neblina.
No aço reluziriam aqueles fins,
Como um sorriso torto, sarcástico
De um amor não correspondido,
Pálido e incurável.
E, como numa troca justa,
Cortejaríamos com ódio outras garotas
De malícia em olhos escuros,
Onde dançam alegorias nuas.
Conquistaríamos suas confianças,
Mas as perderíamos em meio à noite.
Fortes, porém piores que nós,
Aqueles que nos derrotam
Em trapaças baratas de mesas sujas
Estariam rindo como nunca antes.
E nós estariamos num canto do quarto,
Com um cigarro à queimar, sem tragar,
E mordendo os lábios até amputar.

"Malditos olhos daqueles anjos
Malditos olhos..."

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Estou alcoolizado e Pau no seu cu através desse texto que nunca vai ser uma poesia do Caio F. Abreu

Sejamos nós aqueles filhos
Viciados em ópio
Em derrotas concretas
Como os narizes quebrados em brigas.
Situação deplorável
As prostituas enforcadas
Com moedas de mais valor, nos olhos
que as dos nossos bolsos
E aquelas garotas;
Puras e soberbas
A nos humilhar e pisar nas feridas.
Haha! Poderíamos nos vangloriar
de passados de bebidas infinitas
E de histórias de irmãos gêmeos,
Mas no fim da noite
Estariamos sozinhos e vomitando sangue,
E então descobririamos quem somos:
Não tão belos quanto atores,
Não tão gloriosos e nem ricos;
Devendo nos bares de amigos,
Absinto e veneno descendo a garganta
E esganados pelo amor que ostentamos
Por prostitutas agora mortas.
Que grande merda sem fim.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Cidade de Neon

Na cidade de neon
Batem os teares sonoros
Em ritmo acelerado
De um desesperado costume.
Nossas vidas são buquês de flores,
Regados á óleo e à murchar
No chão metálico de uma fábrica
Onde não há cores, só luzes
Desenfreadas e intermitentes.
Solo de fertilidade escrota, polida,
Onde cospem os esquizofrênicos
Até ter seus braços amarrados,
E o olfato perder o sentido;
Na cidade de Neon
Os robôs se espalham pelas ruas
E somos parte deles,
Porque tivemos o coração
Arrancado e moído em seus seios,
Quando morremos pela primeira vez.
E quando partem-nos ao meio
Guardamos o óleo, avermelhado,
Em frascos.. Em frascos fúteis de rancor.
E mesmo que nos arrastemos
Pelas mesmas ruas que eles,
Não pertencemos, não nos vimos em seus olhos.
Porque agora somos infecundos, ocos;
Tudo que sentimos é o vazio,
O vazio que é o nome de Deus
Na cidade de Neon.

"I'm lost, but i'm not stranded, yet"

sábado, 16 de junho de 2012

Nos Jardins do Ódio

O fogo toma os jardins
Gasolina e querosene inflamam.
Chego a arrepiar
Só de pensar no exagero,
Na abundância de dores.
Defecar sangue de tanto beber,
Olhar por dentro
E descobrir como funcionam
As trapaças que os dias pregam.
As crianças não foram avisadas
E correram pras ruas pra olhar pro céu;
Minha imagem refletia num copo
E dentro dele minha alma
Se destilando, escoando,
Florescendo como uma erva daninha.
Em minhas mãos à vida apodrece,
Envenenada pela minha salíva,
Amarro as mãos e vendo o corpo,
O jogo de construções vazias
Onde trabalhadores perderam os dentes;
E quando me canso, perco a luta..
E quando as crianças correram pras ruas
Pra assistir os balões subirem,
Elas não sabiam que seriam seus jardins
Se incendiariam no futuro...

"You say you don't want it
You don't want it
You say you don't want it
And then you slip it in!"

Aos Pés das Mesas

Os sistemas entrando em falência,
Sal e esgoto entupindo os dutos.
Falando sobre aqueles méritos
E nossas metas que foram alcançadas
Por outras pessoas..
Melhores, Maiores...
Reclamando por sermos pequenos
E por sermos esmagados por belas garotas.
Guardamos corações parados,
Tontos e ludibriados
Por estarmos cada dia mais ébrios.
O silêncio pode ser ensurdecedor
E se os tambores o rompem,
É para gritar nomes de vestes rasgadas
Por nossas mães em momentos de angústia.
E de suas casas, ouve-se o retinir dos metais:
Copos cheios brindam,
Copos cheios caem de cima das mesas
E, embriagados mais uma vez
Caímos nós com eles.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A Dança dos Infiéis

Me deixe, em paz.
Me deixe em paz!
Sob estrelas escondidas
E fogo cobrindo os céus
À queimar minhas roupas,
Vestidas.. No corpo.
Um nada próprio dos Monges;
Enquanto chovem pregos
Nas janelas de meus amores,
Badalo meus sinos sem precisão.
Lanço corpos contra corpos,
Pelas garotas serem infiéis,
Se abraço o pecado
É porque seu nome ecoa pelo quarto.
E dançam nuas aquelas garotas,
Enfeitando madrugadas,
E soldados sem uniforme.
E dançam nuas, na noite,
À cegar olhares tortos,
Enquanto na maior escuridão,
Suas amizades espumam de fome.

"I'm gonna climb to the top of the world and
Challenge the Heavens! Gonna bring you God,
Gonna bring you God!"

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ascensão dos Vícios

Mesmo que contemos histórias
Sobre o fundo do poço,
Sobre derrotas e vômito,
Estamos ainda vivos (De alguma forma estúpida).
Acordando em camas de pregos
Ouvindo aquele som rápido
Desagradável e agressivo,
Que insiste em perturbar os vizinhos.
"Eu quero que se foda" - Ele disse,
Com um tom de uma espécie de arrogância,
E saiu pela porta,
Com os ouvidos a apitar,
E a própria sombra resmungava;
"já vai tarde, o desgraçado!".
Tamanha era quantia de doses
De conhaque que bebia,
Que suas olheiras eram
uma metáfora da própria dor
Do dia-a-dia, da falta de vivacidade.
E observando todas as alegrias,
De todos os parques,
Todas as praças,
E a ânsia de fumar pedra,
Decidiu consigo e com seus vícios que
A mente poderia derreter como chumbo.
Que diferença isso tudo faz?
Desejava mesmo ter Câncer
Ou um distúrbio que o derrubasse numa terça-feira.
Hoje está distorcido, miserável e deplorável,
E se morrer de Aids, foi por amor.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O Apocalipse da Alma

Sentimento apocalíptico
Pós, ou Nada..
O grande Nada esmagando,
Colocando o corpo entre as engrenagens
Dilacerando a alma, comprimindo...
Um grande salto espiritual,
Onde a morte é tudo
E é pr'onde a alma caminha;
Todos colocando os pés sujos
Nos sofás da própria mente
E rasgando as almofadas.
No sonho o céu
e na Tv as maiores estrelas,
Acorrentando cordeiros,
Matando os orgãos com veneno,
Enquanto ao vivo e à cores
O álcool te quebra ao meio.
As mãos tremeram, desarmadas,
Como quem diz: "Miséria é mania de mendigo"
Disfarcei tudo, escondi o rosto,
E olhei pra fora:
Fumaça pra entrar nas narinas
E pintar os pulmões de preto,
Carros cospem ódio e sulfur,
Escorre óleo das engrenagens;
Lanço o corpo para alimentá-las.

"Você não consegue dormir
Sem beber e já faz muito tempo que não
Hahaha!"

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A Anulação e a Tempestade


A mais pura forma de aniquilação.
Vejo meus sonhos morrerem,
Meus amigos co'a cabeça na lama,
Suas veias corroídas, por dentro
A pele picada, dilacerada em todo canto.
A vida se quebra como vidro
Um pequeno frasco contendo um feto;
E quando estremece e toca o chão
Os cacos rompem as entranhas e as asas,
Imitando uma arte, quem sabe,
Desesperada, repetitiva e suicida.
Como falar sobre destruição,
Uma arte que trata somente da anulação,
Que se agarra ao fim de todas as coisas?
Com que olhos observar aquilo que nunca foi algo?
Eu jamais fui. Existir não faz parte de mim.
Me prostro como um cadáver,
Certo de que não há
Uma única centelha de chance de nascer;
E me enterro.
Me enterro mais e mais à cada instante.
Diante de cada fracasso,
Que é a cruz e a espada nas mãos
do meu carrasco e de meus amigos.
E o mundo desaba sobre mim.
Desaba porque o céu cai para nos destruir.
Porque a água dá e tira a vida dos miseráveis.
Porque Deus que é o Deus Criador
Conhece também a física da própria inexistência.
E depois da tempestade tudo se acalma,
E todos os seres parecem estar em harmonia,
Banhando-se no perfume dos destroços,
Comemorando solenemente essa dança destrutiva.
Depois da tempestade, tudo se acalma,
Mas até lá, já estarei morto.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Entre Charadas e Pesadelos

Tamanha honra!
Ser uma personagem em seus pesadelos
À naufragar, à me perder pelas praias
Repletas de rochas e de sombras,
Com seus colossais oceanos de óleo
A sufocar todo tipo de beleza.
E então seriamos dois,
Estaríamos expostos em um altar soturno,
À esquadrinhar pelas gretas
Os rituais de seres deformados,
De figuras tamanhamente monstruosas
Que nem as máscaras os caberiam ou esconderiam.
E eles nos observariam, espreitosos,
Como à esperar o momento certo para nos matar,
Mesmo incapazes de nos entender;
E você, acordando assustada em meio à noite,
Me odiaria com todas as forças.
"Decifra-me" - te digo.
E tu respondes:
"Um vício é sempre um vício,
Mesmo que tenhamos consciência do mal que faz."
E tuas verdades me devoram de tal forma
Que desapareço para sempre.

terça-feira, 15 de maio de 2012

No Túmulo

Ó, Guerreiros em prantos e de joelhos
Juntando os cacos de seus corações..
Tantas mães deixadas pra trás
Aquelas intrigas e chuvas negras..
Corroeram estátuas? Cal e inocentes?
Fazer valer a pena.. Que lacunas deixaram
A falta das saudações e
Daquelas velas em chamas...
Aqui jazem hoje, os heróis de outrora;
Presos em rezina pobre
E o sal correndo nas veias.
Drenando seu sangue,
Falhando suas honras,
E no espelho, Cadáveres expostos.
Creio na dor daquilo que prego,
Pregos na testa e úlcera profunda.
Sufoco aquelas emoções,
Destilo meus braços,
Que são os ventos que sopram, então?
Dor e mesquinhez vindos de ti,
Gaiolas ao chão, se arrancas minhas asas.
E aqui jazem meus próprios heroísmos...
No túmulo

sábado, 12 de maio de 2012

Desemprego

Padeceremos de Frio
Como jovens desempregados;
Embriagados de tristeza,
Da pura e jovial tristeza,
Os ventos soprarão angústia.
Deitaremos sob aqueles telhados,
Antigos e já corroídos,
Também nós com alma em escombros,
Sabendo que somos frutos
De um sonho soturno e sombrio;
Frutos das noites qual horror
Leva os grandes à morte premeditada e lenta.
Padeceremos de frio,
Brindando cálices vazios
E saboreando a fome, de olhos vermelhos.
Correremos pela escuridão
Dobrando esquinas, agora esquecidas, aos tropeços
E como jovens desempregados,
Abraçados ao tédio;
Despencaremos.

domingo, 29 de abril de 2012

"O jovem garoto pisou na sala de espelhos,
Onde iria descobrir seu próprio reflexo..
Até as grandes estrelas descobrem à si mesmas nos espelhos..
Às vezes via sua própria imagem e,

Algumas outras, um estranho em seu lugar..
Até as grandes estrelas encontram suas faces nos espelhos..
Ele se apaixonou pela imagem de si mesmo,
E, de repente, a imagem havia se distorcido..
Até as grandes estrelas desaprovam à si mesmas nos espelhos..
Ele se transformou na pessoa que desejava ser,
Criou uma personalidade totalmente nova..
Até as grandes estrelas trocam-se nos espelhos..
O artista está vivendo dentro dos espelhos,
Com seus próprios ecos..
Até as grandes estrelas consertam seus rostos nos espelhos,
Até as maiores estrelas vivem suas vidas nos espelhos..."
Kraftwerk


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Vício e Tortura


Vício e tortura,
e a vida cortando nossos
cordões umbilicais.
O Vício pela derrota,
Pelas pequenas desilusões,
Pelas perdas consecultivas
Que nos desmoronam aos poucos.
A garganta presa,
Nossas emoções sufocadas,
Nos campos de concentração da alma;
Nos tormamos inférteis;
Nossos desejos inócuos..
A negação de todos eles
Nos torna completos idiotas,
Ao sabor das costas ensanguentadas
E o som dos chicotes à nos amaldiçoar.
Vício e tortura,
Alimento para todos os homens,
Soldados e Civis.
E quando as bocas, fedendo a enxofre,
Cal e desgosto finalmente se fecharem
Após um último e fútil suspiro,
O que há de restar são só eles
De mãos dadas, dançando na sala de estar.



"Pulo os muros do meu campo de concentração
Sem olhar para trás
Teu Nazismo voluntário é a perdição
Faz meu corpo perecer
Teus olhares de censura trazem a tona
O pior de mim
Mas eu quero que você me ouça bem
FODA-SE!"

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Solidão e Sal

As velas estendidas,
Velam os olhos inúteis.
Um cego, delirante
Tentando dançar algo peculiar
Mas como fazê-lo, sem luz?
As ondas tombam-nos.
As ondas zombam-nos.
São seus risos que ecoam na noite,
À beira da praia,
E nossos corpos exaustos nadaram em vão,
Tentando fugir de ficar no passado.
Tomo a alma que um dia havia aqui dentro
Faço à escorrer pelos braços,
O que é que sinto? Nada.
Barcos à deriva, somos nós dois,
Barcos à deriva..
E tendo à naufragar
Nesses mares de solidão e distância.
Solidão e Sal, tudo que resta.
Solidão e Sal, São rumo e são Deus.
E tendo a naufragar
Braços, alma e olhos inúteis.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Alguma Outra Coisa

Seria outra coisa
Mesmo que as pessoas cruzassem através
De paredes de gelo, aço e de ódio.
Seria outra coisa se, Apesar de todos
Os lamaçais e cobras nascidos do útero
Puro e sombrio das decepções
Você me pedisse pra ficar por alguns minutos.
Sinto tanto, sinto muito.
Deixe que me toquem, eu não ligo.
Que quebrem espelhos por mil anos de azar;
Deixe que ateiem fogo à pele e
Perderemos controle sobre a dor de anoitecermos.
Nós ou Eu. Sem bocas. Sem olhos.
Cem olhos de solidão e fome
à se alimentar de meus intestinos.
E seria outra coisa,
Se, mesmo em leito de morte,
Pronto p'ra toda e qualquer tortura,
Tuas pedras rompessem as janelas de meu quarto.

"And i need all the love that i can get to"

domingo, 15 de abril de 2012

Despedaçado

Em pé, frente à meu corpo
Eu e ele; Despedaçados.
À ensurdecer, devido àqueles
Absurdos hinos suicidas;
Salvando as veias com um canivete,
Libertando do pulsar, da dor de respirar.
Gritaria, com lábios em sangue e
Me afogando em meu próprio vômito;
Existe forma mais sincera
De expressar meu amor por ti?
Mesmo assim, não entenderiam,
Por ver através de olhos nublados.
Estou infeliz,
Não vai importar o quanto tente mudar isso.
Estamos todos infelizes,
Fingimos, planejando nos enforcar em paz.
Os medos permeando a noite,
Repressão em olhos maternos,
As víceras à queimar, martirizar,
Disso se preenche a vida
E vamos nos inflando, até estourar.
E disso vamos nos alimentando,
Até que os pulmões murchem,
Clamando por ar puro.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Nos Olhos e Lábios da Noite

Feche os olhos e deite-se
Como se a noite corroesse
As entranhas de seus filhos,
À traçar tortuosos trilhos.

Aquela garota está perdida,
Enormes pedras em sua estrada
À cegar ambas as vistas,
Sangrar as pernas, tão cansadas.

Feche esta janela
E vamos descansar, distantes,
Vamos descansar distantes.

Quanto à desejos esquecidos
As teias de aranha a cobrí-los.
E quanto aos sonhos esguios
As teias à perseguí-los.

A garota então, me abraça
De tez morta me veste.
Deixar-me-a ao fim do dia,
Disseminando em mim a peste.

Morrerá quando a noite cair
E me afogar em cuspe e sangue
Morrerá quando a noite cair
Me afogar em cuspe e sangue...

quarta-feira, 28 de março de 2012

Sentir Seu Ódio por Mim Rasgar de Dentro para Fora

Dilacerem-se as almas
E que anjos vomitem as asas;
Por serem toscos, ásperos,
Por lançar ira sobre os homens.
Sonhos impunes aqueles de outrora,
Por ser capazes de mudar um mundo injusto;
Hoje frios e mortos,
À atormentar noites sãs..
Que nenhum Deus seja meu!
Que nenhum Senhor Aflija-me,
Pois sou mártir de mim mesmo!
-O garoto se aproxima do trono,
Toca-o e contempla-o como à Alma daquela sala.
A Voz grave ecoa -
Impuro seja o nome do homem que for capaz
De sustentar-se com as próprias pernas!
Que sofra aquele que ousar
Desperdiçar a jovialidade à caminhar sobre a lama.
Os ecos fazem da voz metáfora de tudo que existe,
No mundo efêmero que é um instante.
Mil mãos de areia podem tentar - eu respondi -
Construir paredes espessas de ouro puro
E falharão sucessivamente, até sobrar só as minhas.
E meus pés, já não sendo parte do corpo,
Magro e nu feito uma estátua,
Hão de sangrar mais ainda que agora sangram:
Pois não são dignos nem de tocar
O chão de pedra que o garoto habita.
Silêncio profundo se instalou:
Dali pra frente, nada mais aconteceu.

terça-feira, 27 de março de 2012

Monólogo Poético-Didata

De vez em quando
Acendia uma fogueira
Nos campos mais gélidos
E esquecidos da alma;
Passaria-se muito tempo
À dormir embalado
Pelas dores sublinares;
Mais este (embora raro)
Calmo mantra religioso
Servia bem para
Encontrar dentro delas
Algum tipo de alívio.
"Abracemos o alívio
Pois deve-se amar
Todo e qualquer hiato
Na tristeza doentia
Em que os dias se cobrem"
-
Deixemos a poesia de lado.
Houveram dias, devo contar à você,
Meu grande, grande amigo,
Onde ela era capaz de perder o cansaço
Tamanho o interesse que possuía
Por minhas palavras mais banais.
Mas agora, percebo...
Do que importa, afinal,
Se foram-se esses dias?
E, com toda a certeza do mundo te digo,
Foram-se.

quarta-feira, 21 de março de 2012

A Verdadeira Selva de Pedra

A vida floresce em volta
De um totem frio e morto.
Dias se passam como poeira soprada;
Células solitárias à se multiplicar,
A dançar, dadas as mãos
Com o tédio de todos os seres.
Antigas tristezas e ânsias,
Refletem apenas monocromia,
Mesmo em vívidos sonhos estranhos.
Homens erguem e tombam,
Mas não ousam inflamar os céus
Com sonhos reais e puros,
Os quais citam em suas poesias.
Os homens constroem estátuas,
Como metáfora de seus espíritos,
Porém deixam-nas à mercê do esquecimento,
Repletas de marcas sem sentido,
Das dores nelas cravadas
E das quais somente elas se recordam.
A pedra existe, mas é incapaz de sentir,
Tem sua alma à esparramar-se pela areia.
E agora tudo que é essência
Remete à flor e ao campo verdejante,
Porque foram dilacerados e abandonados
Todos os desejos e ânsias
E por dentro de todo e cada homem
Jás somente pedra, morta e fria.
A vida floresce em volta,
Mas só em volta, nunca dentro.


E em cada espelho que olho,
Em cada olhar deprimido que fito,
Mora uma pergunta que, na noite, me atormenta:
Estaria a verdadeira selva de pedra
Dentro de mim mesmo?

sábado, 17 de março de 2012

Pelo Ralo

No princípio era a depressão.
E a depressão era bela em si mesma.
Lembro-me dos primeiros dias;
Observá-la como um cristal raro,
Nascendo de minhas costelas
Todas arrancadas e prostradas
Em um altar, onde eu era o cordeiro.
Antes havia beleza em estar
Como estou neste exato momento.
Baixo, sem nobreza.. Escuro.
Como quando os anjos chamavam por mim
"Escuro! Escuro!"
"Estou aqui!" eu respondia,
Das sombras do canto de um quarto,
Enjoado, vomitando sobre a pele nua,
Arranhando-a até rasgar
Os olhos a escorrer pus.
Mas agora está tudo morto.
O corpo desaba, derrete, mas não dói...
Pego-me a observar este certo cadáver.
E a distância entre eu e ele
É só o vidro que nos separa, fisicamente.
Espiritualmente, somos o mesmo,
O mesmo caos pútrido de células.
E onde estará a calma e a Dor?
Não às sinto! Não sinto!!
Não sinto, não sinto e não sinto!
Roubaram-me tudo!
Roubaram-me a alma!
Roubaram-me todas estas coisas,
A beleza essencial!
Deixaram só lepra e maldição.
O pulso pára e seca....
Ligo o chuveiro, deixo fluir e
Desmancho na água.
Quem dera escorresse pelo ralo...
Quem dera...

quinta-feira, 15 de março de 2012

Peso Sobre as Costas dos Jovens

Tristes olhos à observar,
Errar, cair, despedaçar-se.
Que são risos? Lágrimas? Nada!
Com outros olhos vejamo-nos. Inexistimos!
Os lobos distribuidos pela floresta
Morrem de fome, de tristeza, de vazio.
São lobos! E como lobos, que sangue
Amargaria-lhes tanto a boca que os faria vomitar?
É nossa carne presa entre seus dentes.
Nossos ossos quebrando como pequenos galhos.
Refugiamo-nos no escuro.
Em doses diárias de falso afeto.
Eu também estava na platéia quando a cortina se abriu.
E tudo o que havia eram atrizes nuas, sem rostos, sem seios.
O medo toma o espaço, onde um dia, morou o coração.
Estamos perdidos. Inamáveis.
Todo o fingimento diário vem nos dominando.
A vida se torna um eterno pesar; Não há hiato.
Os pés afundam e afundam. O desacato desanima.
Cinza cobre os céus de cada um.
E é só quando nos olhamos no espelho que percebemos:
Muito peso sobre as costas dos jovens
E todos acabam em uma cova rasa.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Outono



[Refazendo A Música outono, agora com 10BPM a menos, qualidade um pouco maior, volume mais alto, com alguns detalhes adicionais e continuação.]

quinta-feira, 1 de março de 2012

O Sétimo Selo

A peste se aproxima;
Evitamos de todas as formas:
Ateamos fogo à pele,
Atuamos e inventamos jogos
que fingimos ser capazes de vencer.
Mas este anjo, o anjo da destruição
À ele nada escapa.
Sentes o vazio?
Fite meus olhos frios,
Coloque-os em sua face...
Estão inebriados do vazio,
Do vazio que nasce por detrás da lua.
E Quando o sétimo e último selo for aberto
E os sete anjos com suas trombetas
Começarem a soar um por um,
A morte nos fará uma visita,
Para dar o xeque-mate em nossa existência,
E nos convidar para dançar
Ao sabor do Juízo Final.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Paz e Penitência

Quero saber o que a paz me propoe;
Quando o sonho é só sonho,
Claro, embora monocromático.
Quero entender qual o nome
Do abismo que agora nos separa;
Corpo e alma, medo e desejo.
Seremos honestos conosco
Perdendo as cordas vocais
E algemando reações espontâneas
Apertando-as, Esmagando-as
Como pássaros morrendo entre os dedos?
Abraçar-me à vista do espelho
Ainda forte, mesmo que sem controle,
Confiando num efêmero reflexo.
Quero saber o que será do fim;
Da subjetividade dos sonhos que
Jamais passarão de sonhos.
Quero conhecer o silêncio que sopra
Nos campos calmos da alma;
Quero saber o que a paz me propoe,
Ao separar-me de mim mesma...

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Nos Olhos do Velho Senhor



Ele entrou por aquela antiga porta
A poeira se escondia por debaixo dos tapetes.
Velhos rostos desconhecidos
Velhos rostos a ser conhecidos

Puxou uma cadeira e um cigarro do paletó
Sonhava de olhos abertos
As rugas haviam tomado seu rosto
Triste e seco, esquecido pela vida

"Estamos velhos" Disse,
Estava sozinho na sala.
"Estamos velhos" Disse,
e pegou o violão
Bateu as cordas e fechou bem forte os olhos.

Sonhamos juntos, eu sei
Sonhamos juntos e acordamos separados
E agora.. É hora de deixar tudo se ir..
Pra sempre..


[Errei pra caralho, mesmo; Sem animo pra corrigir
Cheio de ruído, e dai?]

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Cacos de Vidro

Morto ou vivo,
Estamos à sós?
Quando a última chama exaurir
Quando as correntes pararem de arrastar
Estarei vivo ou morto?
Pisos horrendos assentados na sala;
Tanta solidão, tanta solidão.
Tais lugares tão isolados
Ainda riscam meus sonhos.
O espelho se quebra,
E minha imagem se transforma
Em alguma figura metafórica.
Somos estátuas de anjos.
Belos simbolos, porém efêmeros.
O que representamos se não a solidão?
Duas crianças em um útero,
O que tem em comum?
Choram, doam, doem.
Chega de papo furado.
Digamos um belo e largo foda-se para tudo isso!
O que realmente existe
É a cabeça bem afundada na merda,
É o fogo tomando o rosto
E seus gritos de dor na madrugada.
Amargurem, amargurem e sofram
Os filhos de todos os úteros!
De natureza torta e espírito frio.
Agonizem!
Guardo comigo ainda um caco de vidro;
Seguro-o de forma que corte os vãos dos dedos;
Deixo o sangue escorrer.
Tiro os espelhos do quarto,
Pra tentar dormir em paz por uma noite;
Tudo que eu tentei fazer deu errado.
Tudo que eu tentei deu errado.
Deito a cabeça sobre o travesseiro.
Fecho bem os musculos da garganta;
Decepo-os.


"I'll write in your face with my pretty knife,
I'm gonna toy with your precious smile,
I want to know,
i want you to know
Want You to know what love is"

sábado, 11 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Erros

"Dava-me a angústia de pensar
Tu ainda não dirias
Sobre aquela fé iluminar
Entre máscaras esconderias

Aperte a minha mão
Um novo ano começa
Queimo cada segundo em vão
Em erros que me impeça

Esculpir em rostos sem alma
Vejo anjos em uma Igreja
Desenhados com a Glória e calma
Que para os olhos corteja
Sonhos aos poucos morrem
Ser o mesmo, ainda Penso
Os vencedores discorrem
Sobre o erro propenso...

Fazendo ainda esquecer
Sobre as maiores derrotas
como velhos à perecer
Com as suas anedotas

Antigas e infantis
Como poucas alegrias
Ao final de tudo, sempre diz
Tu ainda merecias

Esculpir em rostos sem alma
Vejo anjos em uma Igreja
Desenhados com a Glória e calma
Que para os olhos corteja
Sonhos aos poucos morrem
Ser o mesmo, ainda Penso
Os vencedores discorrem
Sobre o erro propenso...

Queimam os livros, pisam os jardins
Mesmo com os riscos daqueles fins
Por favor implore abraços
Mesmo que chore por quebrar os laços
Escondendo pálidos Sóis, exibindo seus troféus
Da vitória sobre nós, com a glória maior que os Céus... "

-Erros por Ilustre Ode

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Castelos Destruídos

Jasmins num cemitério.
Jasmins num cemitério
Aos prantos.
Venha cá rapaz, venha ver
Aqueles castelos desmoronarem
Os corpos nús à despencar
De suas torres em cheque.
Cá eu em cicatrizes
Enterrado sob hinos curtos de dor
Repletos de palavras inúteis e inertes,
Almejando flutuar sobre antigas enxurradas.
Dancemos na chuva!
Dancemos na chuva
E morramos ao nascer do novo dia.
Venha cá ver, rapaz,
Meus joelhos em feridas
Por ter caído tantas vezes..
"Não sou mais criança..
Há flores que desconheço pelo mundo espalhadas.."
Lamentarei-me aos quatro ventos
E meus dentes trincarão.
Em estalos queixos hão de cair
E humanos antes sóbrios
Correrão como cães outrora encoleirados;
Pois em cólera se banham os cães
Em cólera e em desamor...
A humanidade estará de joelhos
E a garota que chorava,
E acumulava raiva na alma,
Rasgará o vestido e o sorriso.
Cairão por terra as mães.
Cairão por terra as mães
E os filhos, envenenados.


"Now she's in purple, Now she's a turtle,
Disintegrating...
Christine Sees her face Unfurl"

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Crível

Não é sobre chorar sobre o leite derramado.
Não é sobre amar ou sobre não ser amado.
Mesmo que chovam os lírios
Sobre as mesas dos ricos de espírito,
Rasgarei minha pele, atearei fogo
Deitarei sobre o vidro implorando socorro.
Chorei ao fugir de tenebroso claustro
Chorei ao correr e ter o corpo exausto,
Vejo-me ao espelho repleto de dores críveis,
Abominam-me monstros extremamente plausíveis.
Traço, tez e corpo esguio,
Algemo-me a beira do rio,
Espero desfigurar-me pelos reflexos infindos
Perder-me nas luzes que à noite banham,
Sou devorado por peixes famintos
Arrepios e medo agora me ganham.
Flutuo leve pelas pequenas ondas,
Torno-me filho da noite e das sombras.
Mato no ninho qualquer emoção
Dilacero o desejo e me afogo, então.
Como pode a ausência machucar tanto?
Arrancar o rosto e arranhar o peito
Sem deixar marca, sem excitar, no entanto,
Fazer da felicidade um crivo tão estreito?
Não tens ideia do quanto é insuportável,
Ter em mãos um feto de placenta umedecido,
Em corpo e alma, totalmente inamável
De coração, de mãos e de pés desprovido...
Não é sobre nenhuma dessas dores,
Sobre contar tristezas e desamores;
Sobre não saber como existir;
Sentir sua vida, aos poucos exaurir..
Sobre não possuir nada além do vazio
Abraçar a si mesmo e sentir-se frio.
É sobre estar sentado, totalmente absorto
Ter a alma em prantos e o espírito morto.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Espera e Saudade

Sei que dissemos que não morreriamos.
Sei que estou sempre a margem da existência,
Mesmo que tenha, num impulso de fé,
Acreditado que não ficaria para trás de novo.
Perdão por ter me esquecido dos sonhos de outrora.
Por ter me esquecido de observar o luar,
E as nuvens vermelhas que permeiam a madrugada...
Ainda risco o céu com os olhos, às vezes,
Num lapso de vontade crua de existir novamente.
Sou feito do pó das ruas lá fora,
Além da janela fria do quarto, ainda.
Aprisionado no concreto, na pele e no osso;
Sinto o cheiro ainda daquelas angústias.
Estou tão são, liso e concreto.
Tantos devaneios inúteis
Me desviam do caminho que anseio trilhar.
Me convenço de que é o maldito emprego
E isso tudo que já foi demais, para mim..
Eu sei que te disse que não morreríamos.
Outrora tão vivos... Tão próximos e vivos.
Como pode Meu peito não exalar calor,
E tudo ser tudo tão vazio, agora?
Faço do mundo o que, se de mim não faço nada?
Espero, mesmo que os dias se passem sóbrios e
Ofuscados pelo brilho do passado...
Espero, por mais que não possa vislumbrar nada,
De mãos juntas e olhos ao céu
E levo de ti foto alguma,
Mas claras lembranças de sonhos agora mortos.

"She was a girl Left alone
Feeling the need To make me her home"

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

You Didn't Need To Do That To Me

"You Sleep alone at night,
You never wonder why
All this bitterness wells up inside you...

You've got a low self opinion, man
I see how it breaks you down,
I see how it messes you around..."

"When i touched you, Did you feel it?
Did you ever feel Anything at all?
Do you ever lie awake at night?
Do you ever think of me?
I've got my arms wrapped around myself
You've got your arms around someone else

I lie to myself
I tell myself
I'm not down
Down..
Down...
DOWN
I'M
NOT
DOWN!!!!

Some people are better left alone
Some people are better left alone"

"Believe me when i tell you:
Life will not break your heart
It'll Crush it!"

Rollins Band - You didn't need

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Pena

Vamos todos fazer sexo a três,
Brindar taças de lama e vinho!
Estamos sós e sem afeto,
Coloquemos a cabeça no colo podre
Da fraqueza mãe do ser humano.
Maldito o macaco que quis crescer
Sem saber que amarrava o rabo nas pernas.
...
Não vai dizer que já começou
Aquele papo furado sobre aproveitar a juventude..
De novo isso, rapazinho?
É verdade.. É verdade... Esses são nossos filhos.
Vejam só como estão crescidos! Quase do tamanho da mãe.
Não me diga que são irritantes,
Até porque, não fuma à três dias,
E sabe que isso faz sua cabeça doer demais.
Vamos lá, porque se preocupar com isso?
Entrou em vigor um novo estilo.
Estou pensando agora em por silicone,
O que você acha?
Ou fazer uma tatuagem com significado profundo..
Uma alma rasa nas costas bastaria.
Ou será que iria me arrepender depois?
Ah! Para que se importar com essas coisas supérfluas?
Bater o carro está ultrapassado,
Procurarei um jeito original pra morrer cedo,
Um diferente, só meu. Deixa uma marca como aquelas caras
E só a pena vai falar por eles.
Isso sim é fazer a vida valer a pena!
Isso e fazer sexo a três...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Distante como Nunca

Esmagado o corpo contra o chão
Como quando te observo, de longe
à dançar com outros rapazes,
Mais sinceros, mais espertos que eu,
E de longe, mais bonitos.
De longe como sempre,
Você distante como nunca.
Retorcidos os ossos, e mesmo assim,
Tenho feito coisas demais...
Tenho Almejado abrir um bom sorriso,
Rangido os dentes ao dormir,
Saboreado o vazio de possuir um eu,
E mais outras mil coisas;
E Tantas delas faço por ti, mesmo sem perceber.
Às vezes até arrisco ir pro serviço;
Fora isso, crio vidas inalcançáveis.
Intocáveis por natureza.
Ao teu lado, teu lado tão distante.
Você não acredita em mim.. Não é?
Que faço eu pra mudar isto?
Tem sido tão difícil me sustentar..
Juro mesmo que tem sido!
Sobre essas pernas de areia,
esses joelhos defeituosos. Já não basta?
Tento caminhar; Caio sem cessar..
O que? Sejamos otimistas? - Está bom.
As coisas fluem, acho que isso é o lado bom,
E foram as bocas que me contaram..
Mas como posso acreditar,
Se foram aquelas mesmas que ouvi dizer
Que não posso tê-la,
Não nessa vida, talvez nem na próxima?
Que viveremos assim, distantes como nunca?
Como posso acreditar?
Com certeza é mentira!
Acho que só tenho.. Trabalhado.. Demais...

"Searched hard for you
And your special ways
These Days"

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Véus em Chamas

São véus que cobrem os rostos
E os seios daquelas mulheres.
Cores medonhas carregavam seus templos interiores,
Em infinitos Natais ocos banhados;
Em outros, rostos feridos pelas chamas
E à esbanjar da fome de Deuses sublimes
Fitavam paredes pálidas e espelhos d'água,
Almejando aprender a amar.
Hoje, às vezes são olhos inúteis e secos;
Fechados por medo e por ignorância
E só os cavalos restam
Dançando nos sinceros desertos da solidão.
Mas, em outros momentos,
Os corvos que caçavam cadáveres pútridos,
Se vão e deixam em paz os animais
Para saborearem a essência plena em existir.
Nestes rituais de passos simples,
Faço de mim um estranho entre os dançarinos,
Olhar também ferido pelas quimeras
E ofuscado pelo calor e a luz,
À fim de ter fome como a fome daqueles espíritos.
São os véus que cobriam os rostos, caindo,
Faziam com que nós nos tornássemos mais cinzas, mas
Que o fogo, agora, desfigure nossos rostos,
Tornemo-nos nós mesmos as cinzas do que fomos;

"Let's dance, little stranger
Show me secret sins
Love can be like bondage
Seduce me once again..

Won't you dance with me
In my world of fantasy?
Won't you dance with me
In a Ritual of Fertility?"

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012

É o fim, mesmo para os mestres do tempo.
A garota tola balança as pernas,
Acordada pelas vibrações retas:
Entoadas pelo ritmo que ecoa pelo quarto
e pela corda bem presa no pescoço.
Um passado de sonoridade futurista,
Nossos pais um passo à nossa frente.
E Ela ainda preferia os peixes,
Observar-se à mergulhar no espelho
Onde as maiores estrelas do mundo
Arrumam suas imagens; suas faces.
E o robô, que dançava sozinho no quarto,
Se perguntava como seria amá-la.
Mesmo quem não sente, se sente só.
A solidão não exige aquele frio na espinha,
Afinal, vivemos na era dos computadores,
Da exclusão desapercebida,
Do brinde ao Alzhaimer sentimental
Dos amigos lembrados por bipes eletrônicos.
A grande arte moderna mora nos trabalhos manuais,
Nas fábricas de sonoridades constantes.
Mesmo para aqueles além da tecnologia,
Mesmo para os sábios da antiguidade,
Esta é a era da infertilidade,
Era esta que deve e vai ser deixada
À mercê dos robôs solitários.

"We are functioning Automatic
And we are Dancing Mechanic
We are the robots"