segunda-feira, 29 de julho de 2013

Os Conselheiros

Contam-se as almas sujas de frieza
Como contam-se tripas de cachorro
no asfalto de uma avenida à meia luz.
Os conselheiros se reúnem para mais um dia turvo e inócuo.
Multiplicam-se as mãos frias sobre a mesa
E racham-se as testas para a abertura da cerimônia.
Estouram-nos, arrombam-nos narizes
Para sangrar as mil garotas em overdose de ketamina.
Os conselheiros riem para amores que se afastam.
Afastam-se para trepar a noite toda com nossas namoradas.
Os sábios arrancaram as árvores pelas raízes,
Apunhaladas por seu otimismo.
E transaram sem amor a noite toda,
E colocaram chapéus pela calçada por esmolas.
Nós pisamos sobre nossos órgãos genitais,
Até gozar sangue na sarjeta.
Foi assim que aprendemos e que Jesus previu que seria.
Porcos imundos do mundo, garotas imbecis do mundo,
Uni-vos! Ouçam já a decisão dos conselheiros.
É dado toque de recolher para sentimentos e riscos,
Deitem-se todos, golas nos trilhos,
Já vem o Diabo contar suas almas!
Ou são elas as tripas de cachorro na avenida?

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Pecador de Carne e Osso

Para as mãos do Pecador de carne e osso
Todos os crânios e fêmures medem milímetros.
Os erros à Ele nutrem. Alimentam Su'Alma.
Não clamarão como passado. Sequer calarão
O calafrio noturno da sinfonia dos não-nascidos.
A noite em claro da desgraça eminente e o aguarde pelo bote da inexistência;
Esses se farão eternos.
O poder de estancar o coração com as próprias mãos,
Vingar-se de si, de seu fruto que nada tem de sagrado.
O ódio de ser Aquele que vem na noite para abafar os gemidos
E trazer o manto da morte às garotas indefesas.
Sangra entre as pupilas do esgoto a rã, desidratada,
Prepara uma única valsa com a merda, com os dejetos.
Somos nós refletidos na porcelana dos pesadelos?
São nossas faces a dos monstros embaixo da cama das crianças?
Ah! Nem vem Deus ceifar o pecador de carne e osso.
Deus o teme por não temer aos Deuses.
Não existe Deus, na noite do desespero.
Só o sentir-se imundo e a placenta vazia dos sonhos.
A partir de agora, o mundo será melhor.
A partir de agora, o mundo irá cessar.
Limpos os restos dos animais e do Remorso
Na sala branca da impureza das vontades,
Tudo que resta são as mãos ensanguentadas;
As mãos do arrependimento regurgitado,
Do Pecador de carne e osso.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Aborto / Asfixia

Aborto,
Como a libertar do cárcere do ventre o filho,
Como a libertar da chance de formar olhos,
E da chance de que eles brilhem.
O cordão umbilical esgana o feto,
Engasgado pela placenta que escorre por entre as pernas de uma garota
Que se debate num banheiro imundo,
Vomitando misoprostol entre sangue e tripas.
Coagulado o útero agoniza,
Entre espasmos, seca as entranhas e sufoca a vida.
E é tudo que resta nos esgotos, boiando com os filhotes de ratos mortos,
Cãibra para os nossos iguais malditos
E a inabilidade de respirar uma vez, sequer.
...
O descaso desolador esmaga os prédios da cidade,
Em uma de suas janelas, remoendo a insônia do remorso,
Ela chora.
Chora uma existência ectópica,
Um ventre abcesso, miserável.
Chora o fruto rejeitado dos erros cometidos,
Que reage com dor e maldição à mão macabra que o corta pela raiz.
Chora, pois, ao debater-se por sua vida,
O veneno maldito do Sal, mais uma vez, a venceu.