segunda-feira, 18 de março de 2013

Ratos Prenhes

Mesmo soterradas pela argila,
Nossas carcaças despertam para a madrugada.
Gravamos nossos nomes pelas árvores escravas
Que se distribuem através do jardim da tristeza
E enfiamos os dedos na garganta afim de vomitar ódio,
Só para descobrir que éramos vazios.
Nossos rins riem de nós,
E o Sol nos dá de ombros;
A coleira com que o Diabo nos vestiu,
Agora serve de cordão umbilical,
Alimenta-nos do sangue que irriga os olhos dos mortos.
Toda essa nudez porca me enoja.
Essa piedadezinha medíocre e esse senso de superioridade patético.
Somos ratos, que, embora prenhes, agora mordem as próprias unhas
E arrancam as orelhas de seus amigos.
Já meu filho está morto. Sinto seu coração, parado,
Apodrecer em meu útero.
Nenhum ser vive só de ácidos e alcoóis.
Nenhum ser vive só de tristeza e solidão;
Arranque-me as pernas, não sou digno;
Entregue-me aos Senhores e reis;
Nos lençóis sujos de minha cama sub-vive uma garota triste.
Encardida, esquálida, inibida.
Sorriu-me algumas vezes no passado,
Agora, deformada, vai me esperar a noite toda,
Mas já não sou capaz de voltar.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Vire as Costas

O fim da tarde encaixa-me
Como um abraço cadavérico e frio;
O vazio, varrido pra debaixo do carpete,
Visita-me.
Tua ausência faz-se mãe de minhas deformidades,
Toca meus braços, com afeto e os arranca.
Só em teu nome hei de descansar,
E ao pé de tua sombra, colossal, repousarei.
Pisa em minhas mãos ou deixa-me de lado;
Escolha, de punhos cerrados e vire as costas.
Não acenderei velas como um retardado,
Ou cigarros para comemorar a sua chegada;
Nem esperarei em vigília noturna.
Ausentarei-me. (Prometo).
E depois que tudo for pó
E só a noite restar, para caminhar junto à mim,
Cospirei em minha própria lápide,
E morderei a língua para disseminar o veneno.
Cem covas hão de enfileirar-se, vazias,
Cavarei-as, uma a uma, até sangrar os dedos,
E Engolindo toda a terra que puder,
Engasgando em amores nunca tão imbecis.
Apedrejarei-me, por não ser de teu feitio,
E entregarei meu corpo para que lance aos cães.
Só um pedido há de restar, preso em minha garganta,
Se não fí-lo enquanto era cedo e os sinos soavam:
Não me dê as mãos, em dedos nus,
Se for só por piedade.

quarta-feira, 6 de março de 2013


O Garoto das Asas de Inseto

O garoto das asas de inseto
Alça um voo torto
Sua coluna curva o entristece
Sua coluna triste o encurva.

Damos as mãos, todos;
Os olhos, em resina, paralisados.
O garoto das asas de inseto
Paira sobre nossos ombros
Com a leveza de uma barata.

Os vermes aplaudiriam
Todos os gritos infames na madrugada
E os gemidos de virgens
Os alimentaria a alma

Como a alma que lhe falta.
O garoto das asas de inseto..
O garoto dos olhos de inseto..
O garoto dos sonhos de inseto..
O garoto cuja vida
Custa a vida de um bater de asas,
Curto, infame, impenetrável.

O garoto das asas de inseto
Sorri e chora.
Sorri e chora.
Sorri e chora.

"I started a joke, which started the whole world crying,
But I didn't see that the joke was on me.."

segunda-feira, 4 de março de 2013

Tarde Demais para Dormir

É hora de me deitar.
Quando eu voltar, quando eu me aproximar,
Vai ser tarde demais..
Se sinto os poros trancados pela fumaça,
E gosto de sangue coagulado nas vias nasais,
E se as vistas escurecem.. Nada disso vai importar.
Passa da hora de ficar quieto.
Fito no espelho, meus olhos escuros.
Curvo, constato, não sou mais um garoto.
E o agarro pelos colarinhos,
Aquele que acabou de acender o primeiro cigarro de sua vida.
Cuspo em seu rosto e o amaldiçoo,
Porque meu passado é uma escultura de humilhações.
Um sobre o outro, empilham-se os fracassos,
Quando não suportar carregá-los, mais,
Tornarei-me um deles.
Os músculos de meu peito rompem-se aos poucos..
Isso traz um certo alívio;
Um cigarro para cada derrota diária - Era sua promessa.
E depois de um maço e meio,
E de um Sol nascendo sem vida no horizonte..
É tarde demais para me deitar.
Cuspo em meus pés:
-Filho da puta. Arrancou-me os dois pulmões.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Mal

Não posso existir em mim porque tenho medo do que sou.
Eu sou o feitor de meu próprio mal.