sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Lodo e Argila

Por ruas cobertas de lodo,
Na chuva se desfazem amores de argila..
Distantes clamam mortos;
Batalhas onde és inimigo.. Não mais!
Mesmo que puxem para baixo,
Algumas moedas não tem valor,
São só peças de metal enferrujado,
E assim fazem dos dias mais longos,
Transformando-os em árduos lamaçais à se cruzar..
Banquetes já não fazem sentido,
Nem vem o sono visitar, pela noite..
Como se o fruto que viria à apodrecer
Houvesse amargado à boca desde o princípio
E feito de todos os anos, pó..
Daltônicos amores esqueceriam-se,
E deixariam tudo para trás com facilidade,
Seguindo, sem direção alguma,
Pela neblina de um mar de indiferença qualquer.
Mas à ti, nenhum tempo cega.
Tu carregas tudo, como o asfalto carrega o peso
De ter em suas origens a própria essência do lodo.
E à ti há de restar apenas solidão,
Como os ímpios hão de ter na lápide,
Esculpidos pelos justos, os nomes de seus amores.

O Cair das Cinzas

Solto tuas mãos
Num gesto súbito e incoerente
Inerente à quem sofre co'agonia
De viver sempre ante um abismo.
Uma doença degenerativa
Me consome um pouco mais à cada noite..
Sua alma e sangue espreitam,
De um canto escuro do quarto (O mais sujo)
E vão me engolir, antes que venha o sono,
Mas os lábios, dormentes há tanto,
Nem ousam gritar teu nome.
Letargia toma os músculos,
E o coração há de parar...
Há anos a cidade desmorona lá fora,
De nada adianta escrever epitáfios
Em homenagem à antigas amizades...
E se, antes tão azuis os horizontes,
O cinza agora os toma e retorce
Fazendo restar nada mais que o puro pó..
A última cinza do cigarro há de cair,
Nela toda a angústia e tristeza queimarão,
Hei de observar com pena, enquanto toca o chão..
Por ser feita da mesma matéria podre
Que faz meu corpo tomar forma;
A última cinza do cigarro há de cair,
E eu, com ela, despencarei.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O Homem-Cão

A vida impede de desistir, As vezes.
Eu parecia... Correr!
Sozinho parecia sonhar.. Talvez..
Olhar para os lados, que miséria!
O eterno retorno, a tristeza sem fim..
Seria o próprio âmago da vida
Despedaçar uma folha nas mãos
Com toda a glória de um derrotado?
A graça de correr até cair o maior tombo
E discorrer sobre cães amigos
Sobre crianças em casas feitas de doces,
Esquecidas por mães
Que ouvem Carpenters para limpar suas casas,
Deixando apenas a indiferença, lisa..
Seria esse o objetivo final?
E aqueles garotos, tão joviais que nos contaram
Que no fim iríamos todos nos abraçar
E chorar a mágoa e o remorso
De ter vivido de olhos fechados, onde estão?
Ah.. Agora me lembro.. De um velório..
Eu parecia... Parecia...


"...Guardo comigo um caco de vidro;
Seguro-o de forma que corte os vãos dos dedos
E que o sangue reflita de forma poética.
Tiro os espelhos do quarto,
Pra tentar dormir em paz por uma noite;
Tudo que eu tentei fazer deu errado.
Tudo que eu tentei deu errado.
Deito a cabeça sobre o travesseiro.
Fecho bem os musculos da garganta;
Decepo-os. "

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Tempos Áureos, Ao Contrário

O corpo tremia em espasmos sem iguais,
Pesadelos anormais me tomavam pela mão,
E eu, sem forças, me lamentava..
...
Aquelas garotas me passaram pra trás.
Elas, com suas taças transbordando água suja,
Com olhares próprios de Deuses..
Sádicos; Com seus altares e estátuas,
Sempre frios e distantes..
Me passaram pra trás.
...
Na lama acumulada em um corredor,
Dançavam vermes, celebrando a depressão,
E eu, na menor de minhas formas,
Preparava-me para dormir também por ali;
Companhia para eles? Parte de seu corpo?
Portas trancavam-se ao meu passar
E idiotas se jogavam de janelas
Como à imitar grandes gênios de forma imbecil;
[Edifícios sempre tão altos e imponentes, agora embolorados]
Entre eles me vangloriava;
Entre eles também pertencia.
E entre eles, havia de me lamentar uma vez mais;
Um amor distante, como uma imagem à perder as cores,
Um horizonte ilusório, uma trapaça dos dias..
Ah! Os tempos áureos, ao contrário..

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Orgulho das Máquinas

Carros cospem ódio e súlfur
Escorre óleo das engrenagens
Os homens empalhados
Construídos à sua imagem

Os Deuses, imunes à queda
Em tronos de cal e aço
Ostentam orgulho humano,
Seu desdém e seu descaso

Movidos pelo remorso
Como cegos animais
Buscando romper os sinais vitais
Damos glórias as máquinas
Por não sermos seus iguais
Perdemos a esperança de encontrar paz

Colocamos em tom miserável
Os pulmões em um cinzeiro
Traçando o futuro instável
De um filho derradeiro

Que nasça do puro metal
Com o coração dilacerado
Da evolução desigual
E de desejos programados

 A vida é incoerente,
Humanos não mais relutam,
Cegos seguem em frente,
Glórias banais nos ofuscam

[Adaptação de vários textos recentes]

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Epic problem

Congratulations...STOP!
Wish i could be there.. STOP!
Tell me something that i don't know
Is there anything left to know?
STOP STOP STOP STOP STOP STOP
ACESSORY! ACESSORY! ACESSORY!
FOR THE TIME! TIME! TIME! TIME!

I've got this Epic Problem
This epic problem's not a problem for me
And inside i know i'm broken
But i'm working as far as you can see
And outside it's all production
It's a illusion, set scenery
I've got this epic problem
This epic problem's not a problem for me...

Fugazi

Da Cor Cinza Inerente aos Trens

"O trem ainda não partiu" - eu disse,
Com os olhos banhados em sal e tristeza.
"Porém não tarda nossa distância...
E você vai estar, finalmente, livre;
Não é isto que sempre quis?"
E veio-me a recordação de um garoto,
Com rosto jovem, à beira de uma sarjeta..
Vivendo num reino de alegrias dissonantes;
E também de uma garota nua
À dançar, de olhos baixos;
Destilados baratos perturbavam sua mente;
Não havia nenhuma música tocando.
Nunca percebi quanta tristeza carregavam
Essas cenas das quais me recordo,
Mas hoje são dores bem próximas..
E quando é chegada a hora,
De todos os desejos que tive,
De todos os trilhos que quis caminhar,
Resta apenas um horizonte
E o trem que há de partir..
É.. E por fim, de todos os sonhos
E de todas as cores que
Habitavam os olhos de Natasha
Ficou apenas o cinza.

Sobre Lares e Lobos

Cães.. Carcaças..
Que faces me observam,
Das bordas desta cidade esquecida?
Que lobos vêm habitar os edifícios
De palha que um dia destruiram?
O lar onde vivi, que,
Mesmo para uma brisa fraca,
Se fazia frágil?
Os desconheço..
Não são os mesmos de outrora.
Nem as inspirações..
Aquelas foram sopradas ao acaso e,
Guardadas aquelas peças de couro,
Sobrou a inanição à me encarar
Com suas unhas e dentes afiados..
Como pinturas de Bárbaros
Carregando em lâminas
Suas próprias glórias;
Grossas, tortuosas.
Cortes então se espalham
Pelas juntas de meus membros,
Pelas veias expostas na pele branca
E eu, acorrentado,
Observo do canto, escuro e úmido,
As feras à devorar meus amores;
Porém, não sofro.