quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A Desesperança e o Descaso

Nuvens negras se espalham pelo céu como uma praga,
Engolem prédios, pontes.. Meu corpo,
Catatônico num canto sujo.
O frio me recorda que posso sentir,
Minha pele, antes deficiente
Agora arde, queima, desfaz.
Você observa a doença me consumir,
De cima, imune,
Com sua desgraçada leveza, imune..
Num poço os cães disputam
A única migalha que atira,
O perdedor rolará na lama,
Os outros, escarrarão sangue e morderão seus rostos,
A fim de realizar sonhos necrosados.
Satanás, o Titereiro,
Se aproxima para cuspir na minha cara,
Chafurdo na merda, engasgo, me afogo;
Em cima você, em baixo, o Demônio,
E eu tendo de escolher quem eu quero
Que pise nas minhas mãos quando eu tentar levantar.
Os humanos observam tudo,
Como um falso teatro de ódio;
Mas não era esse o papel que eu queria pra mim;
Onde eles vêem leveza, eu vejo distância;
Onde eles vêem imunidade, eu vejo doença;
Onde eles vêem Deus, eu vejo descaso;
Onde eles vêem Amor, eu vejo Solidão.

"O mundo morreu, o ódio venceu, o que é que eu vou fazer?
Sigo meu caminho, meu caminho é morrer.."

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Caixão lacrado

As cinzas caem com a leveza de uma doença degenerativa;
Um comediante morreu esta noite.
Seu intestino se espalha pelas entranhas
E motores de uma máquina, que segue respirando.
A chuva lava o que sobrou do asfalto.
Sangue pisado é o que se fez de seu potencial
De suas conquistas...
Uma criança chora no quintal,
Não vai conhecer o pai.
Agora mais negro que nunca, carvão; fumaça;
O punho no rosto, no estômago, no muro
Nas costas..
E todos caimos de joelho.
Lacrem a merda do caixão, não vou chorar dessa vez.
Lance o corpo no fosso, jogue terra em cima,
Não quero saber de mais nada.
O mundo rui à cada segundo,
Este é o mal do qual padecemos.

- Vá com Deus, meu querido..
Vá para casa, vá para casa e diga a seus pais que tudo ficará bem.


"Better off Dead, Better off Dead
A Smile on the lips and a hole in the Head"

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O Palhaço

Não possuo traços para sorrir.
Em meu rosto crava-se a essência do espírito.
Encerro-me em solidão e câncer.
Procure entre os dentes
De um andarilho frustrado e vai me encontrar;
Mesmo se os olhos de uma quimera fossem capazes
De atravessar o véu que cobre meu corpo
E me tocar com mãos que me dissessem para dormir tranquilo,
Não seria capaz de suspirar aliviado...
Uma espécie de palhaço veio até mim,
Era cedo e as maçãs de uma cidade fantasma
Banhavam-se no leve frescor que às faria deliciosas;
Com um cigarro preso entre os dedos,
O palhaço celebrava o fim dos amores:
"Bem aventurados sejam os pobres de espírito!
Bem aventurados sejam os vencedores!..."
Permaneci em silêncio, paralisado,
Voltei os olhos pro chão, onde a brasa,
Recém liberta do papel, tocou o chão e,
Em alguns segundos se apagou,
Mas não quebrei a vigília
Pela qual eles arrastavam as pálpebras,
Nem as libertei da areia e dos pregos;
Então, como um pastor que anuncia o fim dos tempos e,
Sobrepondo a minha voz à dele,
Que soava incessantemente, retruquei:
"Entendo que seja um palhaço,
Agora, por favor, cale essa boca!
O amor morreu há muito, todos estão cansados de saber.
Por estas ruas, sequer existiu!
Meus traços não me permitem sorrir,
Pois não sou palhaço. Nem ao menos sou humano!
-Assemelho-me à esta brasa,
Que no chão apenas espera apagar-se.
Agora vá embora!"
O palhaço calou,
O palhaço chorou..
O palhaço partiu...

domingo, 9 de dezembro de 2012

O Novo Legado

Deixe ruir ao redor
Com seu típico olhar de pena
Imitando malditas hienas
Rindo sem nenhum pudor;

E'ste será o sentido da vida
O reinado dos imbecis
Um rastro do inferno em gris
E uma história corrompida.

Avante! Avante soldado!
Avante e sem coração!
Somente a espada em mãos
E o peito dilacerado.          [Em frente!]

Em frente! Em frente soldado!
Enfrente, sem alma!
Pois o tempo não acalma
O ódio de nosso legado!

A morte de nossas mães
Em agonia e desgosto
As lágrimas para o rosto
E o espírito para os cães.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Os Filhos

A floresta sagrada queima
Em nossos pulmões, como carvão;
Os edifícios cobrem o Sol
E a fumaça cega os pássaros..
Pagamos o preço de escolher
Entre uma existência barata e rasa
E tantas outras, insalubres.
Os fogos de artifício e o desgaste anunciam:
- É tempo de deixar para trás
Estátuas distribuídas pela cidade,
Quais aquelas que admirávamos tanto;
Deixar de lado os próprios braços
Que tanto impedem que nossos filhos cresçam -
Egoístas, por sentirem-se sós e
Ingratos, por cortar os braços
Num banheiro imundo..
É tempo de rasgar a pele e gritar pela janela
Toda a dor de acordar mais um dia -
Jogo tudo pelo ralo e sorrio,
E posso ouvir os aplausos dos ratos,
Escondidos entre as frestas do meu peito..
Posso ouvir a aflição dos cães,
Que correm para as ruas,
À fim de ouvir o último badalar dos sinos..
E Em meio a poeira,
antes varrida para debaixo dos tapetes
E agora nos irritando os olhos,
Telhados queimam, Filhos morrem,
Pontes se desfazem..
E sobre as pontes que naufragam rumo ao esquecimento..
Eu.