segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A Mosca

Por favor, corte-me em pedaços,
Eu não suporto a dor de estar inteiro.
Não voltarei a sorrir, por isso quero sangrar.
Sem ações ou braços, sou um inseto maldito,
Agora, arranque-me a cabeça.
Insetos nunca aprendem a viver,
Vivem pouco demais...
As asas da mosca estão cortadas.
Desde quando?
Não voltará à voar;
Jaz no chão meu corpo;
O fim é o inverso do começo;
A dor é o inverso da existência de algum afeto.
Que o mundo se cale!
O vazio é infinito.



'Alegre-se, minha ave!
Voe livre, voe bela... Só voe..
Há de alcançar os Céus!
Só, há de alcançar seus sonhos...'

sábado, 22 de outubro de 2011

Infrutífero

Infrutíferos...
Nossos olhares.
Preces católicas,
Deficiências cruzadas;
Um garoto surdo
Em teu útero seco.
Tuas mãos gélidas
Tocam minha face descrente,
Já estamos velhos
e teus dentes
Ainda cravados em meus ombros.
Correm os ventos
Insatisfeitos...
A união de nossos passos
Em praia alguma
Em oceanos não desenhados,
Ou perspectivas cegas;
Praia alguma.
Meu coração tão poluído
Quanto as veias em teu peito.
Tua piedade me castiga,
Teus cordões umbilicais me sufocam
Dou a outra face,
Por uma espécie distorcida
De orgulho e de estima;
Mas ainda clamo:
'Salvem-me! Salvem-me de mim!'


"As the cowboy turns the gun to himself and sing: 'No one's alive' "

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Jaz no chão o corpo da mosca

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Amigo Imaginário

Como um amigo imaginário, antigo,
Me olha da cabeça aos pés.
Porque me criaste como tal alegoria sádica?
Deusa de meus passos,
E dona de todas as pedras no caminho
Que insisto em nomear Angústia,
À imagem de que demônio me fizera?
Ensina-me milhares de coisas em segundos,
Enquanto percepções se perdem
Como se o tempo fosse metáfora para
Todas aquelas tendências tão inalcansáveis,
E,
Enquanto minha visão corre o chão da sala,
Por minha postura ser baixa e depressiva,
Eternos dias se passam;
Infinitos pássaros tomam os céus la fora
E as nuvens tão cinzas;
Sem que seus lábios se abram num gesto sincero,
Seu coração se recusa a bater uma vez mais.
Fita meus olhos:
"Porque mesmo é que estamos aqui?"
"Não sei..
Nem ao menos sou membro ativo dessa conversação.
Me criaste um péssimo amigo,
Exceto pela parte do imaginário."
Abro a porta e saio;
Ou desapareço como fumaça.

sábado, 8 de outubro de 2011

Sobre Cânceres e Abraços

"-Mova os braços!
-Me motive!"

Lembro de dias em que admiravas minha arte,
E agora, já não lhe espanta meus castelos de argila.
Frágil corpo, frágeis abrigos - Desmorono.
Mas olha só, vermes por dentro de sua tez!
Posso ver, posso enxergar com clareza inigualável!
Deixaste que Demônios te dominassem o estômago
Como os dias em que estivemos no frio sem cobertores,
Sem dividir nosso calor corporal.
Quais sensações horríveis nestes dias, não?
E hoje quando acordei, me senti tão só...
Tens um abraço ai para um velho amigo?
Oh não! Ocupado e de bolsos vazios?
Mas que lástima, meu irmão, mas que lástima!
Paga-me então o cigarro que me deves;
Porque hoje a luz da lua está tão ofuscada
Que não enxergo um palmo à frente do nariz..
Serei eu um daqueles mediocres mesquinhos?
Olho pro céu e já nem há lua. Serei eu um ser deplorável?
O céu é grande demais para minha arte.
Não há horizonte que o alcance!
Mudei muito, não foi? Mudei muito.
Coloque só a mão no câncer e sente minha maldição,
Muitas mudanças...
Sou um monstro infertil, já sei.

"- Mova os braços! Mova os malditos braços!
Faça ondas, como quando era criança e Sonhe!
Mova os malditos braços.
Oh! Já não os tem?... Oh..."

domingo, 2 de outubro de 2011

Entre Voar e Ser Pisoteado

"Estamos tão distantes agora"
Sopram os ventos em meus ouvidos.
Ares de indiferença, ares de descrença.
Cada horizonte é um pensamento,
Cada pensamento é uma ilha.
Isolada; Nada pacífica...
Os lábios se tocam sem ardor,
E o sangue escorre pelas pernas, antes arrepiadas.
Quebrados e jogados ao chão - Veja só;
São nossos corpos,
Sem fagulhas de emoção;
Sem espontaneidade nas palavras.
Cadáveres inamáveis, sem filhos para acolher.
Hajam covas para nossas mil mortes!
Já não domas teu corpo.
Já não domino meu destino.
Não mais acolherei pássaros feridos pela chuva;
Já não sorrirei para o Sol num abrir de janelas;
Matei nossos filhos, abortei meus sentimentos,
Agora, por favor, cubra-me com terra.