quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Cidade de Neon

Na cidade de neon
Batem os teares sonoros
Em ritmo acelerado
De um desesperado costume.
Nossas vidas são buquês de flores,
Regados á óleo e à murchar
No chão metálico de uma fábrica
Onde não há cores, só luzes
Desenfreadas e intermitentes.
Solo de fertilidade escrota, polida,
Onde cospem os esquizofrênicos
Até ter seus braços amarrados,
E o olfato perder o sentido;
Na cidade de Neon
Os robôs se espalham pelas ruas
E somos parte deles,
Porque tivemos o coração
Arrancado e moído em seus seios,
Quando morremos pela primeira vez.
E quando partem-nos ao meio
Guardamos o óleo, avermelhado,
Em frascos.. Em frascos fúteis de rancor.
E mesmo que nos arrastemos
Pelas mesmas ruas que eles,
Não pertencemos, não nos vimos em seus olhos.
Porque agora somos infecundos, ocos;
Tudo que sentimos é o vazio,
O vazio que é o nome de Deus
Na cidade de Neon.

"I'm lost, but i'm not stranded, yet"

sábado, 16 de junho de 2012

Nos Jardins do Ódio

O fogo toma os jardins
Gasolina e querosene inflamam.
Chego a arrepiar
Só de pensar no exagero,
Na abundância de dores.
Defecar sangue de tanto beber,
Olhar por dentro
E descobrir como funcionam
As trapaças que os dias pregam.
As crianças não foram avisadas
E correram pras ruas pra olhar pro céu;
Minha imagem refletia num copo
E dentro dele minha alma
Se destilando, escoando,
Florescendo como uma erva daninha.
Em minhas mãos à vida apodrece,
Envenenada pela minha salíva,
Amarro as mãos e vendo o corpo,
O jogo de construções vazias
Onde trabalhadores perderam os dentes;
E quando me canso, perco a luta..
E quando as crianças correram pras ruas
Pra assistir os balões subirem,
Elas não sabiam que seriam seus jardins
Se incendiariam no futuro...

"You say you don't want it
You don't want it
You say you don't want it
And then you slip it in!"

Aos Pés das Mesas

Os sistemas entrando em falência,
Sal e esgoto entupindo os dutos.
Falando sobre aqueles méritos
E nossas metas que foram alcançadas
Por outras pessoas..
Melhores, Maiores...
Reclamando por sermos pequenos
E por sermos esmagados por belas garotas.
Guardamos corações parados,
Tontos e ludibriados
Por estarmos cada dia mais ébrios.
O silêncio pode ser ensurdecedor
E se os tambores o rompem,
É para gritar nomes de vestes rasgadas
Por nossas mães em momentos de angústia.
E de suas casas, ouve-se o retinir dos metais:
Copos cheios brindam,
Copos cheios caem de cima das mesas
E, embriagados mais uma vez
Caímos nós com eles.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A Dança dos Infiéis

Me deixe, em paz.
Me deixe em paz!
Sob estrelas escondidas
E fogo cobrindo os céus
À queimar minhas roupas,
Vestidas.. No corpo.
Um nada próprio dos Monges;
Enquanto chovem pregos
Nas janelas de meus amores,
Badalo meus sinos sem precisão.
Lanço corpos contra corpos,
Pelas garotas serem infiéis,
Se abraço o pecado
É porque seu nome ecoa pelo quarto.
E dançam nuas aquelas garotas,
Enfeitando madrugadas,
E soldados sem uniforme.
E dançam nuas, na noite,
À cegar olhares tortos,
Enquanto na maior escuridão,
Suas amizades espumam de fome.

"I'm gonna climb to the top of the world and
Challenge the Heavens! Gonna bring you God,
Gonna bring you God!"

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ascensão dos Vícios

Mesmo que contemos histórias
Sobre o fundo do poço,
Sobre derrotas e vômito,
Estamos ainda vivos (De alguma forma estúpida).
Acordando em camas de pregos
Ouvindo aquele som rápido
Desagradável e agressivo,
Que insiste em perturbar os vizinhos.
"Eu quero que se foda" - Ele disse,
Com um tom de uma espécie de arrogância,
E saiu pela porta,
Com os ouvidos a apitar,
E a própria sombra resmungava;
"já vai tarde, o desgraçado!".
Tamanha era quantia de doses
De conhaque que bebia,
Que suas olheiras eram
uma metáfora da própria dor
Do dia-a-dia, da falta de vivacidade.
E observando todas as alegrias,
De todos os parques,
Todas as praças,
E a ânsia de fumar pedra,
Decidiu consigo e com seus vícios que
A mente poderia derreter como chumbo.
Que diferença isso tudo faz?
Desejava mesmo ter Câncer
Ou um distúrbio que o derrubasse numa terça-feira.
Hoje está distorcido, miserável e deplorável,
E se morrer de Aids, foi por amor.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O Apocalipse da Alma

Sentimento apocalíptico
Pós, ou Nada..
O grande Nada esmagando,
Colocando o corpo entre as engrenagens
Dilacerando a alma, comprimindo...
Um grande salto espiritual,
Onde a morte é tudo
E é pr'onde a alma caminha;
Todos colocando os pés sujos
Nos sofás da própria mente
E rasgando as almofadas.
No sonho o céu
e na Tv as maiores estrelas,
Acorrentando cordeiros,
Matando os orgãos com veneno,
Enquanto ao vivo e à cores
O álcool te quebra ao meio.
As mãos tremeram, desarmadas,
Como quem diz: "Miséria é mania de mendigo"
Disfarcei tudo, escondi o rosto,
E olhei pra fora:
Fumaça pra entrar nas narinas
E pintar os pulmões de preto,
Carros cospem ódio e sulfur,
Escorre óleo das engrenagens;
Lanço o corpo para alimentá-las.

"Você não consegue dormir
Sem beber e já faz muito tempo que não
Hahaha!"

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A Anulação e a Tempestade


A mais pura forma de aniquilação.
Vejo meus sonhos morrerem,
Meus amigos co'a cabeça na lama,
Suas veias corroídas, por dentro
A pele picada, dilacerada em todo canto.
A vida se quebra como vidro
Um pequeno frasco contendo um feto;
E quando estremece e toca o chão
Os cacos rompem as entranhas e as asas,
Imitando uma arte, quem sabe,
Desesperada, repetitiva e suicida.
Como falar sobre destruição,
Uma arte que trata somente da anulação,
Que se agarra ao fim de todas as coisas?
Com que olhos observar aquilo que nunca foi algo?
Eu jamais fui. Existir não faz parte de mim.
Me prostro como um cadáver,
Certo de que não há
Uma única centelha de chance de nascer;
E me enterro.
Me enterro mais e mais à cada instante.
Diante de cada fracasso,
Que é a cruz e a espada nas mãos
do meu carrasco e de meus amigos.
E o mundo desaba sobre mim.
Desaba porque o céu cai para nos destruir.
Porque a água dá e tira a vida dos miseráveis.
Porque Deus que é o Deus Criador
Conhece também a física da própria inexistência.
E depois da tempestade tudo se acalma,
E todos os seres parecem estar em harmonia,
Banhando-se no perfume dos destroços,
Comemorando solenemente essa dança destrutiva.
Depois da tempestade, tudo se acalma,
Mas até lá, já estarei morto.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Entre Charadas e Pesadelos

Tamanha honra!
Ser uma personagem em seus pesadelos
À naufragar, à me perder pelas praias
Repletas de rochas e de sombras,
Com seus colossais oceanos de óleo
A sufocar todo tipo de beleza.
E então seriamos dois,
Estaríamos expostos em um altar soturno,
À esquadrinhar pelas gretas
Os rituais de seres deformados,
De figuras tamanhamente monstruosas
Que nem as máscaras os caberiam ou esconderiam.
E eles nos observariam, espreitosos,
Como à esperar o momento certo para nos matar,
Mesmo incapazes de nos entender;
E você, acordando assustada em meio à noite,
Me odiaria com todas as forças.
"Decifra-me" - te digo.
E tu respondes:
"Um vício é sempre um vício,
Mesmo que tenhamos consciência do mal que faz."
E tuas verdades me devoram de tal forma
Que desapareço para sempre.