quarta-feira, 29 de junho de 2011

O Corpo ao Vazio

Vivendo como um cão.
Só mais um, na beira de tuas sarjetas.
Caminhos tortuosos estes que trilhei
Com meus pés machucados
Por caminhar sobre cacos de vidro
Em busca de carinho, ou restos.
Nada é tudo que existe
Se tudo que existe é vazio.
Estes mares de desilusão,
Ah! Águas que turvam minhas vistas!
Sal na treva de meus olhos
E à queimar meu paladar refinado de cão
Em cada solidão dessas noites frias.
Foram nessas noites, me recordo,
Que aprendi a caminhar sozinho;
Foram nessas noites que,
Sozinho, cortei meu corpo e mutilei meus sonhos.
Eis em mim o sentido do mundo.
Ânsia de morte toma minha garganta
Minha vida inútil há de ser expelida.
Eis em mim toda a beleza da existência!
Nas palmas de minhas mãos,
Tenho todos os sonhos de minha infância
Rumo certo - Rumo reto
Arremeço-os à crueldade do chão
- Como antes, um dia fui arremeçado.
Corro! tento fugir de mim.
Corro, até minhas pernas não suportarem,
Até ter diante de mim o mais negro abismo
O abismo de minhas próprias fobias.
O corpo ao vazio
E sangue frio correndo em minhas veias.
O corpo ao vazio,
Pois nada é justo, afinal.
E os cães, na madrugada fria,
Disputam ferozes minhas víceras.
Não é justo, neste mundo
Que eu viva para sempre como um deles.


"What you're gonna do when the novelty has gone?"

-
[Cada texto tem sido um eco do outro, Pouco a incrementar na idéia geral.
Mas é como saem os sentimentos,
Mesmo sentimento, mesmas expressões, mesmo pesadelo]

sábado, 25 de junho de 2011

O Herói, em Pedaços

Cresci, mas me sinto pequeno;
Esmagado entre os dedos
Da mão de um Deus que um dia me afagou.
Me recordo ainda
Aquelas brigas entre crianças
Onde meu pai era o mais forte;
Mas meu orgulho próprio, sempre baixo.
Do topo deste mundo
Vi caírem jovens fracos
Em guerras vãs.
Agora vejo, do fundo do poço
Tombarem diante de mim
Faces de notável grandiosidade.
Somos nós, hoje
As estátuas desta cidade.
Somos nós, hoje
Os fantasmas que assombram
Nossos lares tristes.
E por detrás, sei que algo existe.
Uma fortuna desgraçada
Que aguarda cada parte
De meu heroísmo suicida.
Depois do concreto,
Por detrás do pó da ruína
Sei que algo está lá!
É o pavor, nascido do fundo
De nossas tumbas bem lacradas
E dele,
as lágrimas de nossos pais injustiçados
- Heróis, despedaçados.

"Without Eyes you Cannot Cry"

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Desespero Suicida

No abismo da perdição, lançado à queda sem fim
Desistiu de viver, como um covarde?!
Fiquem teus filhos, em lágrimas ungidos,
Aos pés de sua tumba orando em vão.
Não hão de reerguer a cabeça um dia mais
Não hão.
Filhos da desgraça! - Nomeio -
Os que deixaste para trás neste mundo;
No ventre da morte
Foram eles também, como fetos
Nutridos da angústia infinita!
A dor que os parta ao meio.
A dor que os quebre em pedaços!
Desta vida, cicatrizes e corações partidos -
Vazio e dor, a substância de tua ausência.
Nos braços de tua esposa, tua vida escorreu,
Agora jás nas mãos de Deus, o berço de fogo que te espera.
Pois eu pude ver por trás de teus olhos, o desespero
Pois eu pude entender, e ora, te digo:
Morte é o nome da coragem nos lábios dos suicidas -
E completo, com tom firme - Almejavas paz?
Pois o desespero vem agora de tua voz muda.

If You Love the Songbirds

(Primeiro poema que escrevo em inglês, não sou muito fã, mas achei que perderia muito se fosse em português)

If you Love the SongBirds

If you love the Songbirds
Give them a reason to sing
'Coz the birds locked in cages
Just know what tomorrow may bring

You live just like a Lost Dog
Lyin' in someone's else door
The same plea for pity in the eyes
The head always down on the floor

A dog suffers for unhealed scars
Of mistakes once made in the past
The one who choose the present knows future
And now you're well buried and dead

So, if you love the songbirds
Give them a reason to fly
Cause Songbirds locked in cages
Sing because didn't learn how to cry

terça-feira, 14 de junho de 2011

Velho Demais pro Teu Mundo

Existe um vazio dentro de mim;
O tempo correu através de minha existência,
Até que a velhice chegasse
Sem o meu consentimento.
Coloquei a corda no pescoço
De minhas relações com um mundo
Fútil e sem razão,
De palavras vãs em lábios cruéis.
Ninguém me olhou com ternura,
Nada mais que seu desprezo
Caí.
Milhares de sonhos secos
Em meus olhos tortuosos,
Atormentaram meu sono na noite.
"Hei de esquecê-los"
Sorria, com tom triste;
"E só por esta manhã,
Só por esta maldita manhã;
Tão fria e depressiva, e em que
(sem nenhuma vontade)
Me coloco em pé,
Queria que ficasse ao meu lado".
Mesmo nos dias em que sorri,
Dos quais nem pó resta,
Possuía ainda, visão pessimista.
O peso na consciência,
Esta ânsia catastrófica,
Avassalando os sentimentos
Que eu guardo por ti e de ti escondidos
Sempre esteve bem à vista.
E você se foi. Você se foi para sempre...
E o que restou do amor em minha
Cabeça abalada pelas mudanças
Foi só uma enxaqueca maldita,
Que me cega, que me cega o tempo todo.
Porque é que tem que ser assim?
Guardo o zelo nos bolsos e choro,
Amor ou ódio-próprio, como se importasse.
Porque é que tem que ser assim?
Meu corpo fraco há de se extinguir...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

House of Mystery



(Do mesmo pintor da imagem da headline - House of Mystery #19)

Esao

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Solidão

É raro um texto aqui não ser meu, já que eu sou egocêntrico.
Mas este aqui me impressionou muito,
então postarei-o, por ser maravilhoso.
É de um grande amigo e de alguém que merece, sem dúvida, meu mais sincero respeito.
Além de escrever maravilhosamente bem:

Solidão

"Solidão

No início achei que fosse um grande alvoroço de pessoas protestando, pensei em ir até a rua para ver o que estava acontecendo. Aos poucos, o barulho foi ficando mais agudo, parecia que uma alcatéia de lobos famintos marchava em minha direção. Era o vento que uivava, fazendo tremer as janelas por onde passava. Pude ouvir ao longe o som de vidro se quebrando e o barulho das folhas se arrastando pelo chão. Minhas mãos estavam geladas e a direita subiu trêmula até a boca. Dei um último trago no cigarro e o apaguei na parede de concreto, deixando mais um ponto preto para a coleção. No céu as nuvens passavam correndo, como se fugissem da grande tempestade que estava por vir. Uma bela lua minguante foi revelada, acompanhada de alguns pontos luminosos espalhados pelo breu. Uma rápida memória da minha infância passou pela minha cabeça, de quando eu, deitado na varanda do sítio de meu avô, ficava contemplando o céu que naquela época era forrado de estrelas, onde as infinitas combinações abriam as portas para a imaginação. Tão rapidamente como as outras se foram, novas nuvens surgiram, desfazendo minha visão e me trazendo de volta à realidade. Um clarão deixou o céu avermelhado e aguardei por alguns segundos o estrondo que não veio. Entrei no meu quarto, deitei em minha cama, me cobri até a cabeça buscando segurança. Ao vento não tinha porque temer, apenas agradecer por me deixar ao menos ouvir o som de sua voz."
- Marcelo H. Cuenca

O Assassinato dos Amores

Cabeça entre os joelhos
em posição fetal, o mofo toma as pernas.
Da podridão, algo lindo cresce,
Engolindo seus glóbulos oculares
De dentro para fora,
De dentro para fora,
Suas entranhas expelidas no banheiro.
Um anjo o toma pela mão,
Seringas traçam um belo caminho
Que o leva ao ápice de suas sensações
(As vezes envolve uma breve visita ao inferno)
Distimia.
Nada se encaixa, nada tem uma direção.
Se sente um monstro,
Uma experiência mal sucedida.
O desespero em cada músculo do corpo -
Branco na mente, Preto na alma.
O retorno de sua viagem tenebrosa;
Um sussurro nos ouvidos
O suicídio em seus lábios
Contornos tortuosos e sentidos incertos
Uma emoção o abraça forte,
Agora tudo está perdido. Está perdido.
Nenhuma saída é real,
Nennhum sonho pode se realizar.
Esquartejou seus amores e, com eles,
Seus membros foram amputados;
Agora é esperar a morte chegar.


"If i'm gonna cry
will you wipe away my tears?
If i'm gonna die
Lord, please take away my fear

Before i drown in sorrow
Well, i just wanna say
How will i laugh tomorrow
When i can't even smile today?"

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A Lápide

O meu ser e meu corpo,
Oferta em teu altar.
Espero que te alimente,
Que te nutra a alma, profundamente.
A incompreensão,
Esta mãe de filhos sem boca,
Vejo agora arrancar-lhe os braços.
Garota, não chore
Pelo estupro de teus íntimos...
A vida, à nós, também cegou.
Todos nós, tendo em nossos caminhos
A nebulosa tristeza cotidiana.
Toda uma nação de infelizes
Com os corações em mãos
Tremulando a bandeira da ânsia
De que esses não mais pulsem.
O desejo de confiar e pertencer
Abafado pelo medo do punhal nas costas.
Debatamo-nos em agonia!
-Toda a nossa humanidade
Jaz no ventre de uma lápide
Construida de cal e crença.

"Um casamento de conveniência
Só é capaz de gerar filhos mortos"