terça-feira, 10 de setembro de 2013

Os Jovens nos Parapeitos

E as sombras e morcegos vem.
Batem ao parapeito de um prédio,
Quase para romper os vitrais das janelas.
E me acordam com fulgor e glória da ansiedade asquerosa
Que toma nas mãos (e quebra) os queixos dos fracos.
Minhas facas apontam apenas à mim,
Ao meu fígado e pâncreas.
Perfuram.. E a sangria me cura,
Perfuram.. E a sangria me drena,
Drena de ti e teu nome tatuado nas veias;
Restam as ocas lembranças dos olhos cegos,
Agora certos de que um novo dia -
Um dia pior e mais desesperador - virá.
Cairá dos céus como uma praga,
Pulsando nas entranhas dos morcegos;
E, na escuridão, as janelas de meu prédio estarão abertas;
Suas cortinas agitadas, à flamular,
Serão uma bandeira para os apartamentos vazios
Relembrando à cidade e aos roedores:
Aqui, um jovem teve o sono perturbado..
Aqui, um jovem desistiu.

Luciana

Não me deixe.
Eu fujo, me ajude, eu choro!
Me transformo nos cantos úmidos da casa,
Me transformo em seus ecos malditos,
Neste cômodo tosco e mal reformado.
Me tranque no quarto, não me deixe sair.
Nem me esvair pelas janelas dos pesadelos,
Não me deixe!
E eu implorarei aos quatro cantos que me faltam,
Que me faltam pra me dar a forma
A forma dos monstros que me dissecaram.
Luciana,
Você vai mesmo sonhar com outros olhares?
Apague meus olhos, então, quando se for.
E sorria a velhice de animais com fome
Num descampado de alimentos escassos.
Como chegaremos, secos até os ossos,
Aos pés da figueira sagrada do senhor?
Cuspirei nas carcaças de seus cães,
Mas eu te invejo e me arrependo,
E me envergonho porque ainda existo,
Magro e torto e torto e sem sonho, e sem importância e sem vontade e nem quero saber,
E..
Me contorço angustiado fingindo que não me importo.
Peço ajuda, indigno e peço que esqueça,
Ou que volte ao campo seco e chore por mim,
Se arrependa por mim,
Se envergonhe por mim,
E depois.. Me deixe.