terça-feira, 23 de abril de 2013

Os Homens Trancafiados

Muitos carregam chaves,
E cortes de cacos de espelho na testa,
Em vitrines de bordel
Prostituem suas honras (Mirradas, baixas).
Apertam os dentes uns contra os outros,
Entre olhos paranóicos de câmeras
E canetas de lâminas afiadas.
Outros carregam cadeados
Pra viver com os pescoços
Entre barras de ferro.
Trancafiam os olhos
E esfaqueiam o próprio peito
Por ódio de seus filhos.. esposas..
São os auto-gestores,
Os verdadeiros auto-gestores do mundo,
Os suicidas.
Com seu controle titereiro,
Encantam bonecos sem braços.
Todos anseiam, todos calam;
Por vergonha mordem os lábios.
São os cães do mundo,
Os verdadeiros cães do mundo,
Os homens cegos que andam em fila;
São os cães do mundo,
Os verdadeiros cães do mundo,
Os homens abraçados por aço
Com medo de dobrar no meio
Os fêmures de seu ódio e repulsa.

"..E porra, eu queria dizer alguma coisa realmente importante,
Digna de ser lembrada numa hora dessas,

Mas eu não consigo pensar em nada, só nisso:
Uma desculpa.."

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Ninguém Afronta Deus e Sobrevive para Debochar

Choro.
Volto os olhos para o chão,
Onde as escrituras trovaram que eu me arrastaria,
E choro.
Castro com sal os vermes que me escoriam com sua intimidação.
E gargalho cruelmente;
Porque não os afronto; Porque Existo e não os afronto.
Dilacero seus intestinos, estupro seus direitos,
Porém não fito seus olhos com afronta.
Tornei-me uma piada de mal gosto.
Não sou ameaça para os filhos dos santos
Que me acariciam com piedade,
E cujas mãos vão ser amputadas pela sarna que dissemino.
Quem há de reger então
A orquestra dos vermes que se alimentam de minha alma?
Eu, que
Faço da arte a desgraça mais rasa
E cuja face sem vida,
Beira um alerta de maços de cigarros baratos.
Eu, que
Quebro os braços e a coluna de uma garota -
Observo-a enquanto se contorce e se adapta à nova era:
Arrastando-se, vomitando pelos ralos e pias de cozinha.
Eu, que
Amanheci coberto de lodo,
Suportei a chacota de um Deus sádico,
E hoje sou só
Uma piada de mal gosto.


"Ninguém afronta Deus e sobrevive para debochar"  foi uma frase usada por Feliciano referindo-se às circunstâncias da morte de John Lennon.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Sob a Sombra da Humilhação

Degole-me em lençóis sujos de merda,
Minha cabeça, histérica, anseia descansar.
Morda minha língua e cuspa meu ódio,
Drene a sede de miséria que me visita
Ao cair de toda maldita noite.
Foram vinte anos de olhos baixos,
E marcas de suas solas em meu rosto.
Foram vinte anos de murros contra a parede
E de mãos esmagadas, em migalhas.
Sou um cão aleijado por seu descaso;
Os cigarros pintam de preto minha alma,
E agora hão de apodrecer também meus braços.
Apresento-lhe minhas pupilas;
Cobertas de sangue coagulado e incapazes de se expandir;
Estão cegas, mas ardem ao sentir sua presença,
Quando você se aproxima, sorrateiramente,
Para pisar em minhas mãos assim que eu tentar me levantar.
Sempre encurralado, cresci à sombra de sua superioridade.
Sempre no escuro, arrastei meu crânio pelos cômodos.
Chegou a hora de terminar o que começou.
Esmague-o. Destrua-o...
Esqueça-o...