quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Divino Descaso

De qualquer forma,
Quando o fim dos tempos chegar
Para cobrir as crianças de cinza
Nada encontrará além
Da Ignorância de concreto que cultivamos,
Do lodo dos muros que antes guardavam corações vencidos..
Nosso semblante desesperado,
Perante a culpa pelos destroços das costelas
De nossos irmãos, gloriosos.
(A má consciência é a pior das mortes)
Sob o olhar disperso de Deus,
Na lama chafurdarão os porcos,
As lápides de seus pais, enfileiradas
E todo o ódio que preenche nossos ossos ocos.
Manterei-me distante, prometo,
E rangerei os dentes em espasmos amargos;
Manterei-me distante, e vazio
Para não enfrentar de frente
Olhos Divinos de descaso.

"Você não consegue dormir sem beber e já faz muito tempo que não!"

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Inveja

Inveja, mãe dos ratos
Sorrateira como a praga
Que afaga os dedos pelos quais deslizam
As alegrias, minhas e só minhas.

Sou seco porque assim me faço
Em peças de ódio e agonia
Dilaceradas nas mãos da trapaça
Traças que nos desmembram
(Aos poucos, se aproximam
Como quem não quer nada
Derrotando com louvor.. meu espírito)

Sentada ao meu lado, toca meu queixo
Em queda, fenômeno dos fracos,
Já não sou o mesmo, já não sou bom
Nem resta em mim o cheiro do passado..
(Sobre os dias, apenas lhe digo
Que todos eles são cinza)

Cortando a testa, coroa de espinhos
Que me deste, de aniversário
Dez anos de dores e cães
Ao soar do zero, todos cães nascem
Ao soar dos quinze, todos despencam.
(Mortos, que mal me pergunte)

Escarrados, frios, desgraçados
Cães, senhores dos ratos
Que naufragam em meio a destroços
De um mundo outrora nosso.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Casa Vazia

Não há vigília que satisfaça um monstro como eu.
Respirar ar rarefeito, sem trilhos,
A rotina que alimenta os dias dos desgraçados.
Tragar o vapor que emana de um asfalto pútrido
E que faz dos pais, outrora próximos
Fantasmas vagando por uma casa vazia,
A vigiar as correntes que amputam seus pés.
A depressão me desfigurou,
Não vejo como ser mais insignificante que isso,
Um inseto preso entre os fios de seu cabelo alaranjado.
Um amor de verme, que mal causa cócegas ou arrepios.
Poderíamos ter nosso peso medido,
Em pesadelos ridículos de crianças mimadas
E seríamos bem felizes assim, navegando águas rasas, inofensivas.
Mas as ervas dominaram todo o horizonte..
Nasceram. Sugaram a vitalidade da terra, enferrujaram.
E isto forma tudo que resta do futuro,
Eu, um idiota, atrelando correntes aos tornozelos,
E as montanhas cinzas que vislumbrava, mortas.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Eternamente Inamável

Dia chuvoso.
Desde o começo de minha vida,
O cinza destes céus tomaram-me nos braços.
Cresci; Trouxeram-me pela mão,
Inumerosos. Tanto que, muitos deles
Já foram apagados da memória de todos os seres.
Não me tornei amável ou fiz diferença,
Não sou especial.. Pelo contrário: Sou ainda o filho aleijado.
Acho que não bebi o suficiente hoje.
Não abri os olhos o suficiente
Pra que decorasse os traços de seu rosto,
Ou para encontrar as cores do seu cabelo num catálogo de loja.
Tocou meu rosto frio e pálido,
Apertou bem e disse: É agora!
Deus rasgará os céus para pisar em nossas cabeças!
Sempre te amei, desde o começo. O seu sorriso..
Você não quer morrer,
Quer viver outra vida que não a sua.
É algo que entendo. Faço parte da sua vida,
A chance de ela ser boa é, então, mínima.
Vai se convencer de que é necessário,
Ainda assim você não quer.
O mundo respira lá fora,
Somos egoístas demais pra ver isso,
Mas não no escuro. Não esta noite.
Preciso respirar aliviado, também;
Se eu pedisse pra cuspir em meus lábios, o faria?
Agradeço à todos os seres, o descaso que guardam por mim,
Com zelo nunca antes visto.
Meu espírito há muito já não vive,
Se coça na forma de um cão desgarrado;
E agora, sobra meu corpo;
Prostrado com maestria no seio da desgraça,
E Prova viva de que alguns nascem
Eternamente inamáveis.


"Você não pode entrar na minha gangue se não fumar"
"Eu não quero estar na sua gangue"
"Nem eu"

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A Promessa de Deus

Sopra a poeira de meus ossos serrados
Se perdem entre nuvens cinzas.
O amor esmagou minhas costelas,
Envolto ao silêncio que me assobia:
Meu estado é terminal, e estou perdido e sozinho.
Sento-me a beira de um abismo,
A marca dos pés desgraçados de um Deus, que
Desceu a Terra, se fez homem, e arrancou de mim os olhos.
Vês a distância entre Ele e um escravo?
É nula! Criaste-a como linha imaginária;
Por não ter olhos, agora enxergo com clareza..
Posso até prever o próximo passo!
:Aqui, entre as raízes que degeneram a Terra,
As máscaras perderão sua feição,
Filhos bastardos terão seus umbigos arrancados
E os animais enlouquecerão para sempre.
As árvores, em ato egoísta, caírão,
Cortarão os caules e cospirão carbono,
Disseminando câncer entre os filhos prediletos.
Ah.. Já posso ouví-las gargalhar com seus ramos
E fazer chacota enquanto órgãos falham.
Posso sentir gargantas à sufocar e os lábios à formigar...
E mesmo assim, em face do abismo e do apocalipse,
Muitos passarão por mim e dirão que estou insano,
Que nada disso existe, que sou uma farça, um ateu..
Logo proponho, agora mesmo, à estes o seguinte:
Fitem o olhar de um homem na rua,
E vejam nele o reflexo de um Deus sem alma.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O Reino do Ódio

O toque frio ecoa pelos escombros
Da cidade que faz do amor, fumaça rarefeita.
Parafusos e ossos derretem,
Escorrem sobre os olhos dos justos;
As máquinas rasgam os circuitos,
Fazem das entranhas, engrenagens
Para apontar para gênios e idiotas
Que o mundo já acabou há décadas.
Os fogos estouram para anunciar um novo ano,
Esta dádiva, O dom de Deus,
Agora encuba em suas costelas, o Ódio.
Os órgãos não alimentam, drenam.
O corpo rouba da alma, sufoca o espírito;
Esfrega-se em outro, esquálido, aidético,
Até fazer espuma, faísca.
Sombras se tornam maiores que Deus;
Do centro da Terra brota uma erva mesquinha.
Com olhos de águia e focinhos de lobo,
Os humanos em filas, pelo asfalto,
Fracos, sarnentos.
Calcanhares racham. Cotovelos esfolam.
Sorriem dentes podres e cospem saliva seca;
Degeneram-se de braços abertos.
Todos são bem vindos, no banquete do Novo Mundo.

"Quando a fumaça se dissipa no ar,
Não se sabe quem é máquina..
Quem é homem.."