sexta-feira, 20 de maio de 2016

Canção do Corpo Sob a Terra

Os doze sinos badalaram e o véu
Negro da noite bateu à minha porta
Veio cobrir com sua vasta dor o céu
E a mim com uma alma fria e morta

Eu pude ver pela janela os clarões
De uma cidade que acordava angustiada
Tamanha era a força com que meus pulmões
Gritavam suas vogais na madrugada

Mas quando olharam para cima, ninguém viu
O que era bem mais claro que a luz do dia
No alto havia apenas um quarto vazio
E neste quarto o meu corpo não cabia

Despenquei e a queda livre escureceu
Todas as luzes da noite, até a lua
Meu coração, de gritar, também morreu
No chão restou apenas minha carne crua

Tudo é silêncio, agora que me deito
E o solo embala o sono de meu corpo frio
E só a terra que hoje cobre o meu leito
Entoa os gritos que minha boca engoliu

Meu

Meus dias não me pertencem;
Até as estrelas me queimam o rosto
Quando chega a noite.
Todos contam a mesma piada,
Só eles veem graça.
Bebem dos copos alheios
Pra subir os muros cheios de lodo
E gritar do topo até que meus ouvidos sangrem.
A cidade mastiga meu corpo.
Com a energia de Deuses, eles sobem.
Com louvor jamais visto
Por gente tão baixa como eu
Eles destroem as pontes.
Eu caio duro na sarjeta
Envenenado por seus beijos em minha testa.
Seus lábios secos
Me drenam como gin no fígado.
Me venderam por muito pouco e..
Meus olhos, agora, só expressam cansaço.
Meus filhos virão ao sepulcro
Morar comigo e sentir o frio afiado de meus braços
Enquanto a marcha dos Deuses caminhará
Para conquistar castelos sagrados e terras fecundas;
Dentro de uma carcaça seca e suja
Estará minha alma abraçada aos joelhos,
Embalando meu sono eterno
E conquistando aquilo que sempre foi meu:
Solidão...
Solidão e vazio.
Só isso me pertence.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Sob o Vívido Sol da Vingança

Poderíamos chutar todas as pedras
E gritar pro mundo
Que nunca nos esqueceremos
Das milhares traições que sofremos
E que voltaremos pra colocar fogo em tudo.
E tudo estaria bem, então.
Poderíamos cuspir a vida sem sal que vivemos
Dobrar os talheres com os olhos
Pra nos convencer que estamos cada dia mais fortes
Que vamos sobreviver, de novo,
Mesmo que todos apostem na nossa queda.
Poderíamos, ainda, arrancar pelas raízes
Todo o mal plantado em nosso coração
E voltar a respirar aliviados,
Outrora afogando, engasgados em ódio
Agora nada mais iria nos puxar pra baixo.
Mas a verdade é que não temos
Nem a certeza, nem a força
E o medo nos acorda em meio a noite
E sequer há esperança de que um dia melhor nasça.
E, no fim das contas..
Se impedíssemos
O nascer deste Sol pálido de sempre,
As cores de um verão esplêndido
Iriam destruir todo o tédio
Que reinou nos últimos anos,
Ou estaríamos fadados
A viver pra sempre sob
A maldição de um céu cinza
A nos atormentar?