segunda-feira, 8 de julho de 2013

Aborto / Asfixia

Aborto,
Como a libertar do cárcere do ventre o filho,
Como a libertar da chance de formar olhos,
E da chance de que eles brilhem.
O cordão umbilical esgana o feto,
Engasgado pela placenta que escorre por entre as pernas de uma garota
Que se debate num banheiro imundo,
Vomitando misoprostol entre sangue e tripas.
Coagulado o útero agoniza,
Entre espasmos, seca as entranhas e sufoca a vida.
E é tudo que resta nos esgotos, boiando com os filhotes de ratos mortos,
Cãibra para os nossos iguais malditos
E a inabilidade de respirar uma vez, sequer.
...
O descaso desolador esmaga os prédios da cidade,
Em uma de suas janelas, remoendo a insônia do remorso,
Ela chora.
Chora uma existência ectópica,
Um ventre abcesso, miserável.
Chora o fruto rejeitado dos erros cometidos,
Que reage com dor e maldição à mão macabra que o corta pela raiz.
Chora, pois, ao debater-se por sua vida,
O veneno maldito do Sal, mais uma vez, a venceu.

Um comentário: