segunda-feira, 18 de março de 2013

Ratos Prenhes

Mesmo soterradas pela argila,
Nossas carcaças despertam para a madrugada.
Gravamos nossos nomes pelas árvores escravas
Que se distribuem através do jardim da tristeza
E enfiamos os dedos na garganta afim de vomitar ódio,
Só para descobrir que éramos vazios.
Nossos rins riem de nós,
E o Sol nos dá de ombros;
A coleira com que o Diabo nos vestiu,
Agora serve de cordão umbilical,
Alimenta-nos do sangue que irriga os olhos dos mortos.
Toda essa nudez porca me enoja.
Essa piedadezinha medíocre e esse senso de superioridade patético.
Somos ratos, que, embora prenhes, agora mordem as próprias unhas
E arrancam as orelhas de seus amigos.
Já meu filho está morto. Sinto seu coração, parado,
Apodrecer em meu útero.
Nenhum ser vive só de ácidos e alcoóis.
Nenhum ser vive só de tristeza e solidão;
Arranque-me as pernas, não sou digno;
Entregue-me aos Senhores e reis;
Nos lençóis sujos de minha cama sub-vive uma garota triste.
Encardida, esquálida, inibida.
Sorriu-me algumas vezes no passado,
Agora, deformada, vai me esperar a noite toda,
Mas já não sou capaz de voltar.

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