quinta-feira, 14 de março de 2013

Vire as Costas

O fim da tarde encaixa-me
Como um abraço cadavérico e frio;
O vazio, varrido pra debaixo do carpete,
Visita-me.
Tua ausência faz-se mãe de minhas deformidades,
Toca meus braços, com afeto e os arranca.
Só em teu nome hei de descansar,
E ao pé de tua sombra, colossal, repousarei.
Pisa em minhas mãos ou deixa-me de lado;
Escolha, de punhos cerrados e vire as costas.
Não acenderei velas como um retardado,
Ou cigarros para comemorar a sua chegada;
Nem esperarei em vigília noturna.
Ausentarei-me. (Prometo).
E depois que tudo for pó
E só a noite restar, para caminhar junto à mim,
Cospirei em minha própria lápide,
E morderei a língua para disseminar o veneno.
Cem covas hão de enfileirar-se, vazias,
Cavarei-as, uma a uma, até sangrar os dedos,
E Engolindo toda a terra que puder,
Engasgando em amores nunca tão imbecis.
Apedrejarei-me, por não ser de teu feitio,
E entregarei meu corpo para que lance aos cães.
Só um pedido há de restar, preso em minha garganta,
Se não fí-lo enquanto era cedo e os sinos soavam:
Não me dê as mãos, em dedos nus,
Se for só por piedade.

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