sábado, 17 de março de 2012

Pelo Ralo

No princípio era a depressão.
E a depressão era bela em si mesma.
Lembro-me dos primeiros dias;
Observá-la como um cristal raro,
Nascendo de minhas costelas
Todas arrancadas e prostradas
Em um altar, onde eu era o cordeiro.
Antes havia beleza em estar
Como estou neste exato momento.
Baixo, sem nobreza.. Escuro.
Como quando os anjos chamavam por mim
"Escuro! Escuro!"
"Estou aqui!" eu respondia,
Das sombras do canto de um quarto,
Enjoado, vomitando sobre a pele nua,
Arranhando-a até rasgar
Os olhos a escorrer pus.
Mas agora está tudo morto.
O corpo desaba, derrete, mas não dói...
Pego-me a observar este certo cadáver.
E a distância entre eu e ele
É só o vidro que nos separa, fisicamente.
Espiritualmente, somos o mesmo,
O mesmo caos pútrido de células.
E onde estará a calma e a Dor?
Não às sinto! Não sinto!!
Não sinto, não sinto e não sinto!
Roubaram-me tudo!
Roubaram-me a alma!
Roubaram-me todas estas coisas,
A beleza essencial!
Deixaram só lepra e maldição.
O pulso pára e seca....
Ligo o chuveiro, deixo fluir e
Desmancho na água.
Quem dera escorresse pelo ralo...
Quem dera...

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