quarta-feira, 8 de junho de 2011

Solidão

É raro um texto aqui não ser meu, já que eu sou egocêntrico.
Mas este aqui me impressionou muito,
então postarei-o, por ser maravilhoso.
É de um grande amigo e de alguém que merece, sem dúvida, meu mais sincero respeito.
Além de escrever maravilhosamente bem:

Solidão

"Solidão

No início achei que fosse um grande alvoroço de pessoas protestando, pensei em ir até a rua para ver o que estava acontecendo. Aos poucos, o barulho foi ficando mais agudo, parecia que uma alcatéia de lobos famintos marchava em minha direção. Era o vento que uivava, fazendo tremer as janelas por onde passava. Pude ouvir ao longe o som de vidro se quebrando e o barulho das folhas se arrastando pelo chão. Minhas mãos estavam geladas e a direita subiu trêmula até a boca. Dei um último trago no cigarro e o apaguei na parede de concreto, deixando mais um ponto preto para a coleção. No céu as nuvens passavam correndo, como se fugissem da grande tempestade que estava por vir. Uma bela lua minguante foi revelada, acompanhada de alguns pontos luminosos espalhados pelo breu. Uma rápida memória da minha infância passou pela minha cabeça, de quando eu, deitado na varanda do sítio de meu avô, ficava contemplando o céu que naquela época era forrado de estrelas, onde as infinitas combinações abriam as portas para a imaginação. Tão rapidamente como as outras se foram, novas nuvens surgiram, desfazendo minha visão e me trazendo de volta à realidade. Um clarão deixou o céu avermelhado e aguardei por alguns segundos o estrondo que não veio. Entrei no meu quarto, deitei em minha cama, me cobri até a cabeça buscando segurança. Ao vento não tinha porque temer, apenas agradecer por me deixar ao menos ouvir o som de sua voz."
- Marcelo H. Cuenca

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