Os doze sinos badalaram e o véu
Negro da noite bateu à minha porta
Veio cobrir com sua vasta dor o céu
E a mim com uma alma fria e morta
Eu pude ver pela janela os clarões
De uma cidade que acordava angustiada
Tamanha era a força com que meus pulmões
Gritavam suas vogais na madrugada
Mas quando olharam para cima, ninguém viu
O que era bem mais claro que a luz do dia
No alto havia apenas um quarto vazio
E neste quarto o meu corpo não cabia
Despenquei e a queda livre escureceu
Todas as luzes da noite, até a lua
Meu coração, de gritar, também morreu
No chão restou apenas minha carne crua
Tudo é silêncio, agora que me deito
E o solo embala o sono de meu corpo frio
E só a terra que hoje cobre o meu leito
Entoa os gritos que minha boca engoliu
Nenhum comentário:
Postar um comentário