sexta-feira, 20 de maio de 2016

Canção do Corpo Sob a Terra

Os doze sinos badalaram e o véu
Negro da noite bateu à minha porta
Veio cobrir com sua vasta dor o céu
E a mim com uma alma fria e morta

Eu pude ver pela janela os clarões
De uma cidade que acordava angustiada
Tamanha era a força com que meus pulmões
Gritavam suas vogais na madrugada

Mas quando olharam para cima, ninguém viu
O que era bem mais claro que a luz do dia
No alto havia apenas um quarto vazio
E neste quarto o meu corpo não cabia

Despenquei e a queda livre escureceu
Todas as luzes da noite, até a lua
Meu coração, de gritar, também morreu
No chão restou apenas minha carne crua

Tudo é silêncio, agora que me deito
E o solo embala o sono de meu corpo frio
E só a terra que hoje cobre o meu leito
Entoa os gritos que minha boca engoliu

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