terça-feira, 25 de março de 2014

Cego, Surdo e Mudo

Lembro teu nome, mesmo que seja em cansaço
E dançando sobre as cinzas de meu coração.
Cravo-o nos muros ásperos dessa cidade, agora vazia.
Parti e deixei-a, sob a chuva de outros dias..
E se fossem inda aquelas dores de outros dias,
Debaixo dos véus que calavam a passagem de outros dias,
Seria tudo menos assombroso talvez.
Mas o cansaço é de hoje. Teu cansaço em meus braços,
Em minhas têmporas, ainda bem vívidas.
Seria eu, em teu lugar, mais feliz e calmo?
Seria eu, no leito de morte, imóvel, ou
Meus pulmões, grisalhos, ansiariam gritar e cuspir pra fora todo o sangue do corpo?
Dias a fio passarei acordado em teu colo ausente...
Desconheço as formas de te dizer essas coisas, agora
Que teus ouvidos surdos me esquecem e esquecem o mundo.
Meu corpo é mais fraco sem ti e minha garganta, trancada.
Não sei se conheces-me amigo como deveria ser,
Não sei se alegram-te as flores que não entreguei.
Talvez reconheças melhor minhas costas,
Meu dar de ombros pra ti em dias difíceis,
Minha ausência, meu egoísmo.
Fui muito egoísta, eu sei. Muito não existi.
Ainda assim os muros hão de gritar teu nome,
Ainda assim, na periférica sarjeta dos dias duros há de perdurar
Teu grito sem voz, cheio de desespero, amaldiçoando-nos por sermos cegos.
Vamos sair, dessa vez, de mãos dadas.
Vamos sair, dessa vez, juntos de verdade.
E rir da besteira que foram esses dias..
Chuvosos.. tristes..
Cansados..

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