segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O Palhaço

Não possuo traços para sorrir.
Em meu rosto crava-se a essência do espírito.
Encerro-me em solidão e câncer.
Procure entre os dentes
De um andarilho frustrado e vai me encontrar;
Mesmo se os olhos de uma quimera fossem capazes
De atravessar o véu que cobre meu corpo
E me tocar com mãos que me dissessem para dormir tranquilo,
Não seria capaz de suspirar aliviado...
Uma espécie de palhaço veio até mim,
Era cedo e as maçãs de uma cidade fantasma
Banhavam-se no leve frescor que às faria deliciosas;
Com um cigarro preso entre os dedos,
O palhaço celebrava o fim dos amores:
"Bem aventurados sejam os pobres de espírito!
Bem aventurados sejam os vencedores!..."
Permaneci em silêncio, paralisado,
Voltei os olhos pro chão, onde a brasa,
Recém liberta do papel, tocou o chão e,
Em alguns segundos se apagou,
Mas não quebrei a vigília
Pela qual eles arrastavam as pálpebras,
Nem as libertei da areia e dos pregos;
Então, como um pastor que anuncia o fim dos tempos e,
Sobrepondo a minha voz à dele,
Que soava incessantemente, retruquei:
"Entendo que seja um palhaço,
Agora, por favor, cale essa boca!
O amor morreu há muito, todos estão cansados de saber.
Por estas ruas, sequer existiu!
Meus traços não me permitem sorrir,
Pois não sou palhaço. Nem ao menos sou humano!
-Assemelho-me à esta brasa,
Que no chão apenas espera apagar-se.
Agora vá embora!"
O palhaço calou,
O palhaço chorou..
O palhaço partiu...

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