sexta-feira, 18 de março de 2016

Laranja e Verde

Tivesse alguém me dito
Que as folhas que cairam jamais seriam verdes novamente
Que os filhos que não nasceram, jamais cresceriam para ver o mundo
Talvez seria menos otimista ainda.
(Por incrível que pareça)
Mas não me disseram e, esperando a próxima estação
Esgotei-me
E já não tenho entusiasmo que faça com que o tempo volte.

Outrora os céus se enchiam do laranja de teu cabelo
E o oceano vestia-se do verde de teus olhos
Agora só há cinza, no céu e no oceano.
Viraste as costas e deste de ombros ao mundo
Cuspiste nas estátuas uma vez erguidas em teu nome,
Escarraste em mim, em cada palavra que saiu de minha boca.
Eu fui sincero, me doei
E já não tenho voz e nem forças pra curar minha mudez.

A cidade está vazia e assim permanecerá,
Todos foram visitar seus pais,
Alguém a quem tenham, alguém a quem amam.
Levam flores; presenteiam vivos e mortos.
E pra mim, tu estás morta,
E, mesmo que estejas enterrada em meu jardim,
Não quero mais visitar-te; ver teu rosto
E sentir o desprezo em teus olhos estáticos,
Já não tenho flores pra colher pra ti, afinal.

A cidade está vazia e cada vez mais distante.
Todos mudaram-se para um lugar melhor,
Um jardim gentil, alguma outra cidade sem nome.
Poderia pintá-la enquanto dormem
Tirar forças da alma e tingir aço e asfalto
Mas o cinza é mais forte que eu,
E já não existe cor que possa curá-lo.

E foi assim que a vida correu,
Tivesse alguém me dito que assim seria,
Talvez seria menos otimista ainda
E teria me poupado de ficar olhando pro mundo
Pro resto de minha vida miserável
Esperando alguma coisa sequer
Que me lembre como era
Antes de você ir embora.

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