sexta-feira, 16 de maio de 2014

Tu, Teu Ventre e o Passado

Nos abraçamos, um dia,
Eu com minha cabeça por sobre teu ventre e,
Teu ventre agora é passado.
Emboloramos lado a lado, mas não juntos,
Esquecidos embaixo da mesa, nem mesmo os vermes nos quiseram comer.
Nos vãos, nas frestas do assoalho, éramos nós,
Como uma borboleta que sai do casulo,
Apenas para tentar alçar voo, falhar e ser engolida pelas dores do mundo.
Nós agora somos passado;
Foi assim que pereceremos.
Me lembro bem dos sonhos que tinha
- Sobre um morro de carvão onde os monges caminhavam,
Descalços, jamais urravam ou gemiam, pisavam firme.
Lá em cima, não havia leito para se deitar,
Lá em cima, não havia sono à saciar,
Apenas os pés descalços sobre as dores do que já havia virado cinza. -
Tais sonhos agora são passado.
[Tenho para mim que jamais serei monge]
Aqui, a verdade é a sarjeta.
Dela brota todo tipo de vida podre,
Que se arrasta pelo chão frio à implorar por socorro.
E foi assim que um dia, no passado,
Vieste até mim e nos abraçamos.
Aqueles abraços, agora, são passado,
E - embora estejamos lado a lado -
Sequer somos capazes de tocar um ao outro.

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