sábado, 19 de junho de 2010

Sobre criar vidas mais felizes

Num só dia chorar todas as canções tristes que conheces.
Num dia lamentar, em detalhes mínimos, todas as desgraças das quais se recorda.
Sabes bem sobre o dia em que sua maior tristeza te consumiu,
Só não sabes ainda quando conseguirá sua vida de volta.
Sabes bem sobre o maldito dia em que conheceu sua pior dor;
Alguma existe maior que essa? - Não quer conhecê-la, então.
Mergulhas em solidão pois qualquer abraço não te tráz abrigo.
Mas esperas por um que tão bem te fará, que sorrirá como criança,
Mesmo que um dia, um outro tenha te roubado as esperanças mais ingênuas.
A mudança às vezes nos toma um tempo não possuímos.
E se, pros bons acasos a sorte nos falta,
Essa nos falta também no que tentamos conquistar.
Perdemos o direito de escolher entre o que queremos e o que vivemos,
Pensando que esta não é nossa vida.
Criamos vidas outras que trazem prazeres e felicidades inimagináveis,
Esperando um dia acordar numa delas, onde poderemos nos sentir novamente
Como nos sentiamos enquanto tudo era inocência jovial.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A Cidade é Pedra

A cidade é pedra.
Finge que vive, mas é morta.
As estradas desenham tristes prédios
Que se mostram no horizonte
Como incógnitas cinzas
Para o estrangeiro que chega (nada bem vindo)
E que se vai com as luzes vermelhas.
A cidade é morta.
Cada pedra que se desgasta com o tempo
É uma lembrança que a memória perde
No céu cinza de finais de semana entediados.
A cidade é triste.
Cada casa é uma vida solitária
Daqueles que cortam ruas escuras
E que acabam num cemitério de flores falsas.
A cidade é cheia.
De pessoas, estradas, caminhos,
Monocrômias que assassinam florestas verdes,
Luzes infelizes que escondem montanhas azuis,
Suores que salgam a dignidade e a honra.
O prédio arranha o céu que é terra e fumaça,
O céu cujo vento empoeira as brisas do campo e as águas da fonte,
Vento que cobre o asfalto quente da estrada,
Cobre o carro, a igreja, a casa.
Um céu que nos lembra como é a vida na cidade.
Tráz no seu ar o horror inseguro da noite,
O cansaço exausto do dia,
O desanimo corriqueiro da manhã.
Faz com que sintamos todos os dias
O odor daquilo que não queremos ver
E que nos lembra de como é triste
Viver na cidade.

domingo, 6 de junho de 2010

Tenho medo

Pra aqueles que perderam todas as chances
a noite é um caminho sem volta.
Qualquer sono sem despertar,
Qualquer beco sem luz alguma,
Qualquer chama sem esperança.
Agoniza, agoniza,
O demônio abraça-te com força,
O único braço que te acolhe
Arrasta-te para o inferno.
Consegues ver o fim da estrada,
levando tua vida nas costas
A indiferença é o teu fim.
O esquecimento, no canto triste que é a angústia.
Todas as memórias são velhas,
Todos os filhos estão empoeirados,
Seus terços, sua fé, sua dureza morreram.
Agoniza, é o fim.
Dorme, morre, some, esquece.
Não há ascenção,
O olhar é profundo, mas não podes ver,
Dorme!
As árvores perderam as raízes,
Os pulmões clamam pelo ar,
Os amores não vivem mais;
Quereria, ainda, poder se arrastar
Por este chão ingrato que cheira à cadáver.
Não pode se expressar,
Grita, sem resposta, porque perdera os sentimentos.
Como?
Se já se acaba tua razão, o que te resta?
Agoniza - E essa dor existe?
Podes sentí-la, distinguí-la com clareza?
Teus caminhos tão exatos
agora são curvas sinuosas
E alguma razão existe?
Dorme, dorme e não acorda.
Tens medo, então dorme.


-
Bisavó
Inexplicável